Por: Ana Dubeux

Correio Braziliense

Não é com pouca tristeza que recebemos os dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Todos os tipos de violência contra as mulheres cresceram. E o pior: não é caso de assombramento, já que todos os dias nos deparamos com notícias de crimes cometidos contra a maior parcela da população brasileira. É tão comum que deixou de ser novidade, mas a banalidade não é — nem nunca poderá ser — sinônimo de conformismo ou resignação.

Sempre haverá o argumento de que os crimes crescem porque são mais registrados, o que pode ser verdade em parte, e é importante que as denúncias aumentem, sobretudo porque as estatísticas forçam as autoridades e a sociedade a tomar mais e mais providências.

Os casos de violência doméstica subiram em 2023: foram 258.941 vítimas, o que indica um crescimento de 9,8% em relação ao ano anterior. O número de mulheres ameaçadas chegou a 778.921, um aumento de 16,5%. Subiram ainda os índices de violência psicológica (33%) e stalking (34,5%). Além disso, o número de casos de feminicídio e estupro de vulnerável (crianças e adolescentes) foi elevado.

Resumindo, meus amigos, mulheres não estão seguras em nenhum lugar. Em casa, na rua, na internet. Na companhia da família e dos amigos da família. Quem mais devia protegê-las é quem mais bate, ameaça, humilha, violenta e mata. Não é apenas revoltante, é constrangedor para o Brasil ser um país que impõe às mulheres essa sina de sofrer e morrer nas mãos dos homens.

Esta luta não deveria ser só nossa, e com algum esforço vemos, sim, mais homens abraçando essa causa, mas ainda são muito poucos. As leis existem; as punições, também. Os governos têm lançado medidas de proteção. Mas, ao que parece, tudo isso tangencia a realidade, nem faz cócegas no problema.

Existem poucas fórmulas que darão certo. Mulheres precisam chegar aos espaços de poder com muito mais celeridade. O Judiciário está repleto de magistrados misóginos e machistas, que conduzem julgamentos culpabilizando as vítimas e deixando criminosos livres.

As eleições vêm aí, precisamos escolher muito bem nossos representantes no Executivo e do Legislativo, que não retirem direitos já conquistados e ampliem as redes de proteção. De resto, é investir na educação e na criação de meninos com os princípios da igualdade de gênero, e não do machismo pertetuado na estrutura e na raiz do nosso país. São mudanças profundas, que dependem do conjunto da sociedade. Cada um de nós tem muito a fazer ainda.

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