Estratégia climática é urgente

Por: Paulo Hartung/ José Carlos da Fonseca JR.

Folha de S.Paulo

A jornada de enfrentamento da crise climática nos possibilita tirar, pelo menos, duas conclusões: o mundo patina ao colocar em prática ações de combate a este grave desafio; e o Brasil precisa acelerar seu ritmo de atuação, sob pena de aumentar o sofrimento de seu povo.

A janela de espaço e tempo para agir está se fechando. As conversas sobre mitigação e adaptação, ainda dependentes do financiamento climático, começam a dar espaço para discussões sobre quem pagará os danos.

O Brasil, mesmo com seu potencial ambiental, sente a força dos eventos climáticos mais profundos e constantes. Das enchentes no Rio Grande do Sul à maior seca da história, que ameaça o pantanal com o avanço de incêndios.

O país precisa efetivar, sem mais demora, uma estratégia de enfrentamento da emergência climática para não sofrer ainda mais consequências, nacional e internacionalmente. Aqui, estaremos sempre correndo atrás dos prejuízos e lamentando a perda de patrimônio natural —e, mais grave ainda, os impactos em vidas humanas. Além do fato de episódios como as queimadas de grandes proporções tirarem nossa força nas mesas de negociações.

Nesse sentido, há temas que são caros ao país, inclusive para seu desenvolvimento econômico. O cenário atual em nada contribui com nossa necessidade de, diplomaticamente, enfrentar imposições vindas do hemisfério Norte que criam regras e metas baseadas nos métodos produtivos de países temperados.

Um exemplo é a discussão sobre absorção de CO2. Para o Brasil, é fundamental que internacionalmente sejam consideradas as remoções florestais, tanto de espécies nativas quanto de árvores plantadas para fins industriais, para atingimento de metas. Se o país não apresentar adequadamente suas especificidades tropicais, ninguém o fará por nós. Tal atitude também implica defender um crédito de carbono verde, que só nós podemos entregar ao mundo. Assim, iremos estimular ferramentas da nova economia, como os pagamentos por serviços ambientais, entre outros.

O mercado regulado de carbono nacional é tema que vem se arrastando há anos no Congresso. Ter um sistema com regras claras, integridade ambiental e que nos conecte com os demais modelos do mundo dará tração para tornarmos esse potencial em uma oportunidade real. Vale atenção para que não se desestimule o já existente mercado voluntário de carbono, ferramenta capaz de atrair investimentos internacionais para impulsionar a nascente atividade de restauro florestal de espécies nativas no Brasil, o que nos permite cumprir compromissos assumidos no Acordo de Paris.

Mas tudo isso só terá sentido se agirmos à altura da força ambiental que o país tem. Vale reforçar: é fundamental o senso de urgência. Caso contrário, ficaremos à deriva.

O horizonte aponta para a proximidade da Conferência do Clima a ser realizada na amazônia, em 2025. A cerca de um ano de sediar o maior evento climático do mundo, estamos tropeçando dentro de casa. A preço de hoje, corremos o risco de chegar à COP30 nas cordas. Não há narrativa que supere o poder da ação com planejamento, metas estipuladas e, se possível, cumpridas antes mesmo do previsto. Não temos mais tempo a perder.

 

Compartilhar
Artigos Relacionados
Pular para o conteúdo