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Por: Valdeci Oliveira

Deputado Estadual do Rio Grande do Sul

Não se trata de uma gripezinha. As vacinas salvam. O uso de máscaras, higienização das mãos e o distanciamento social são fundamentais. Acredito em tudo isso, defendi e continuo defendendo tais preceitos e segui rigorosamente todos os protocolos estabelecidos pelos médicos, pesquisadores e cientistas desde que estes se tornaram orientadores, forneceram as ferramentas disponíveis para atravessarmos esse calvário sanitário cheio de temores e dúvidas. Mesmo assim, e tendo recebido três doses da vacina, no início de janeiro acabei me infectando com o vírus da covid-19. E não desejo isso para ninguém. Por mais que você queira, por mais que você emita ordens ao seu cérebro, o seu corpo não responde, é como se ele pertencesse a outra pessoa. É agoniante. E isso que não tive maiores complicações e bastou um resguardo – com o devido isolamento – para que meu restabelecimento fosse completo. Porém, isso só aconteceu porque estava imunizado. Não fosse a vacina muito provavelmente não teria escrito este artigo, muito provavelmente estaria internado. E as possibilidades quanto ao término desse processo não seriam as melhores.

Nos dias que sucederam minha contaminação, apesar de estar confiante quanto a eficácia das vacinas que recebi, não parava de pensar na minha família, no que vivi nas últimas seis décadas, no que ainda queria fazer adiante, no que poderia ter feito de diferente. Apesar de não ter tido febre ou perda de olfato, alguns sintomas surgiram no decorrer dos dias após a confirmação da testagem positiva. Minhas pernas incharam, as veias pareciam querer sair do meu corpo e a indisposição apareceu, com dores articulares até então desconhecidas por mim. Após desinchar, a perda de massa muscular se mostrou presente.

A contaminação por covid-19 não me era exatamente estranha. Meu irmão Valdir ficou mais de cem dias internado, entubado em uma UTI no ano passado, passou por cirurgias e foi, diante de seu quadro clínico, desenganado diversas vezes nesse meio tempo. O sofrimento das nossas famílias era diário, assim como as orações e a esperança. Mas ele venceu, e fomos poupados de passar pela dor da perda tristemente vivenciada pelas mais de 620 mil famílias brasileiras.

Agora era a minha vez, em uma conjuntura – felizmente – muito diferente, de passar por aquilo. Por mais que tenhamos consciência de que a realidade hoje é menos pesada e crítica que a vivida pelo Brasil e pelo mundo em 2020 e 2021, não há como ignorar que cada organismo reage de uma forma, que mesmo pequena existe a chance da doença se agravar, que alguma sequela pode vir a nos acompanhar pelo resto da vida. O medo faz parte da essência humana, assim como a sua aceitação ou seu enfrentamento.

Ter ficado doente, apesar de que por poucos dias, me fez sentir, mesmo que de forma diminuta, a fragilidade da vida, o quanto ela é boa, o quanto devemos protegê-la, resguardá-la. E não apenas para nós mesmos, mas para aqueles que amamos, principalmente quando de forma incondicional. Ter ficado doente fortaleceu ainda mais as minhas convicções quanto à importância de termos uma saúde pública recebedora de atenção e investimentos, de que negar o acesso da população a ela talvez seja um dos piores crimes que um gestor possa cometer, só igualável aos atos deliberados de espalhar mentiras e desinformação quanto a precauções e tratamentos.

Ter experimentado o receio de faltar aos meus aumentou ainda mais a minha solidariedade às famílias enlutadas, da mesma forma minha ojeriza – e meu combate permanente – a quem tem a obrigação legal e moral de garantir saúde e segurança à sociedade e não o faz, seja retardando procedimentos ou se utilizando de métodos “legais” para confundir a opinião pública em nome de uma ideologia espúria. Uma ideologia que aos poucos vai sendo colocada no lixo da História pela sociedade, que não mais aceita posturas negacionistas, cujo resultado é medido na perda de vidas.

Definitivamente não há mais espaços para a dúvida: vacina salva, vida e economia não são contraditórias, nosso SUS e os profissionais da linha de frente desse combate têm sido vitoriosos e precisam de apoio e recursos orçamentários e, sim, nossas crianças precisam ser imunizadas o quanto antes. Colocar barreiras e atrasar de alguma forma qualquer um dos preceitos acima é sujar as mãos, mas não de lama.

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