Um novo ciclo de lutas democráticas no Brasil

arlete_sampaioArlete Sampaio é deputada distrital pelo PT-DF, líder de governo na Câmara Legislativa do Distrito Federal e membro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

As recentes manifestações de rua deflagradas em todo o País chamaram a atenção de todos e suscitaram diferentes interpretações. Para nós, que comemoramos dez anos de governo do PT no plano federal, as manifestações nos indicam uma reinterpretação dos desafios que temos pela frente. É verdade que o País avançou muito nos últimos anos. Milhões de brasileiros saíram da linha de extrema pobreza, outros tantos milhões ascenderam à classe C, cerca de 20 milhões de brasileiros alcançaram empregos com carteira assinada, novas universidades e novos campi foram implantados.

Além disso, mais de um milhão de jovens pobres chegaram à universidade por intermédio do Prouni, criado pelo governo federal em 2004; o ensino técnico  e a educação profissionalizante avançaram; uma nova política externa permitiu ao País relacionar-se com outros países emergentes; o Brasil saiu da condição de 11ª economia para a 6ª economia do mundo.

Mas ainda falta muito! Foi isso que nos disseram as grandes manifestações no Brasil. Falta muito para alcançarmos a oferta de serviços públicos de qualidade na saúde, educação, transportes, entre outras áreas; falta muito para superarmos as enormes desigualdades que marcaram o processo de desenvolvimento do País.

O documento que convoca o V Congresso do PT deixa claro o sentimento da direção nacional sobre a necessidade de atualização programática do partido para o próximo período. “Superar a extrema pobreza é apenas o começo” – essa foi uma frase expressa nas comemorações dos 33 anos do PT e dos dez anos do governo petista. Não basta apenas assegurar aos brasileiros o direito de alimentar-se três vezes ao dia. Nosso povo quer e tem direito a muito mais. Abre-se um novo período no Brasil, um novo período de novas lutas democráticas.

É evidente que a oposição, as forças conservadoras, a grande mídia viram, nas manifestações, a base social necessária a seus planos de desestabilização do governo federal. A Presidenta Dilma, corajosamente, reduziu juros – o que afetou os interesses dos bancos e dos setores rentistas.

A crise econômica mundial atinge o Brasil – o que é inevitável em uma economia globalizada. Mas ainda temos uma situação confortável, pois, apesar da desaceleração do crescimento, mantemos um nível de emprego capaz de gerar inveja aos países do outrora Estado de Bem-Estar Social. Mesmo assim, as manchetes invadem os lares e as mentes dos brasileiros: ora íamos ter racionamento de energia, ora o tomate aparecia como o vilão da inflação, ora estávamos indo ladeira abaixo.

Façamos, então, um exercício de memória: quem se lembra da inflação do Brasil em dezembro de 2002, que ultrapassava os dois dígitos? Quem se lembra dos apagões de FHC? Quem se lembra das taxas de desemprego em dezembro de 2002? Quem se lembra do preço do dólar? Vamos percorrer a história recente em nosso país! Vamos pesquisar os investimentos em infraestrutura, em saúde, em educação! Não tenho dúvida de que vamos ganhar em todos esses aspectos.

As recentes mobilizações têm o mérito de nos sacudir e de nos lembrar dos nossos compromissos históricos. O PT é chamado a retomar o seu lugar como o maior partido da esquerda no Brasil. É chamado a ampliar os seus vínculos com o nosso povo e com os movimentos sociais, reforçando sua disposição de ir além de um mero projeto desenvolvimentista para o Brasil. Tenho, portanto, plena convicção de que precisamos avançar nas reformas progressistas, retomar um novo ciclo de lutas democráticas, promover uma revolução cultural que difunda os valores da solidariedade, da fraternidade, da liberdade, do respeito às diferenças, construindo um mundo sem machismo, sem homofobia, sem racismo.

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