ricardo_amorim_artigoRicardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o Klout.com

Em time que está ganhando não se mexe. E em time que está perdendo? Não, nada a ver com a seleção do Felipão. Refiro-me à nossa política econômica.

No ano passado, em toda a América Latina, o crescimento brasileiro superou apenas o do Paraguai. Em 2011, nosso crescimento já tinha decepcionado e no primeiro trimestre deste ano, nova desilusão. Para piorar, a inflação anual está em elevação desde julho, nosso déficit de transações correntes ̶ o mais importante indicador da saúde das contas externas – vem aumentando desde setembro e nosso déficit público cresce desde agosto de 2011.

Com tantas variáveis macroeconômicas piorando, por que a insistência do governo em seguir por um caminho que não tem trazido bons resultados? A explicação é política e econômica. Até agora, o mau desempenho macroeconômico não afetava a popularidade da Presidenta Dilma porque o desemprego continuava em queda, causando elevações de salários. Salários mais altos somados ao crescimento da oferta de crédito geravam maior poder de compra para boa parte da população, e satisfação com o governo.

Algo começou a mudar. Entre as surpresas negativas dos recentes dados do PIB, a maior foi a expansão pífia do consumo das famílias, até aqui o principal pilar de sustentação de nosso crescimento. A elevação dos preços e altos níveis de comprometimento de renda com pagamento de prestações de dívidas já estão minando a capacidade dos brasileiros de ir às compras e a própria popularidade da Presidenta.

Não por acaso, o governo deu sinal verde ao Banco Central para enfrentar a ameaça inflacionária, acelerando a alta de juros. Os juros ainda terão de subir mais, talvez muito mais, até porque, na falta de medidas compensatórias, a desvalorização do Real frente ao dólar aos níveis mais fracos desde 2009 colabora para a aceleração da inflação.

Se for significativa, a alta dos juros pode debelar o risco inflacionário, só que encarece o crédito e esfria o consumo. Por outro lado, se não for acompanhada de medidas de estímulo à expansão da capacidade produtiva  ̶ estímulos a investimentos e produtividade  ̶ ela transformará o PIBinho em PIBúsculo, com crescimento do desemprego e quedas de salários.

Para crescer de forma sustentada a longo prazo, um país necessita de expansões também sustentadas tanto da oferta de bens e serviços quanto da demanda por eles. Se o consumo não se ampliar  ̶  como tem ocorrido em tantos países europeus nos últimos anos  ̶  a economia não se expande. Se a oferta não acompanhar a alta do consumo, o crescimento econômico será limitado e a inflação subirá, como tem ocorrido recentemente no Brasil.

Entre 2004 e 2010, foi possível evitar este truísmo econômico porque partimos de um desemprego alto e uma utilização limitada da infraestrutura existente. De lá para cá, incorporamos milhões de pessoas ao mercado de trabalho e o desemprego caiu aos níveis mais baixos da história. Com parcos investimentos, o atual gargalo de infraestrutura é óbvio. Para completar, políticas voltadas para reduzir as margens de lucro nos setores financeiro, elétrico, de mineração e petrolífero afugentaram investimentos, limitando o crescimento da oferta de produtos e serviços.

Uma mudança no modelo de desenvolvimento do país é inevitável, política e economicamente. Não dá mais para estimular a demanda sem impulsionar o crescimento da oferta. O governo parece ter percebido isto. Recentemente, elevou a remuneração para investimentos no setor ferroviário e aprovou a nova lei dos portos. Para o bem do país, e até das pretensões eleitorais da Presidenta, mudanças adicionais terão de ser rápidas, amplas e profundas.

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