Enivaldo dos Anjos é deputado estadual pelo PSD-ES.
“Parece distante de nossa realidade a discussão travada no Reino Unido sobre sua saída da União Europeia, já definida em plebiscito, e, agora, da Escócia debatendo se fica ou sai das ordens da Rainha, já que seus habitantes divergiram dos outros países do bloco e foram favoráveis à permanência na UE. A questão britânica lança luz sobre o que pode estar vindo por aí, numa nova onda mundial de radicalizações.
A primeira consequência pode ser a escolha, como presidente dos Estados Unidos, do republicano Donald Trump, com seu discurso radical e xenófobo, a desencadear uma onda semelhante, repercutindo nas eleições presidenciais brasileiras de 2018, com a escolha de um representante do pensamento ultra-conservador e retrógrado. Algo que nos lance numa aventura perigosa.
Essa reviravolta na geopolítica é consequência da falta de visão de longo prazo daqueles que pensaram a globalização econômica, constituída em blocos, sem pensarem em suas consequências sociais. Esqueceram-se de que um fator influencia o outro. De repente, fronteiras caíram e multidões de excluídos migraram para lugares mais promissores, movimento de fluxo que provocou uma reação de contrafluxo.
A reação é mais ou menos assim: você está em sua casa e seu quintal é ocupado por pessoas que confundem o desejo de estar bem com o ódio ao seu bem-estar. A partir daí, ninguém mais está seguro. Então, a primeira consequência é de reagir contra a presença dos “invasores”. É bom não esquecer que um dia na Alemanha alguém promoveu movimento parecido e deu no que deu.
Erraram os líderes mundiais ao promoverem o fator econômico sem considerarem o fator humano. As ordas que se deslocaram, notadamente dos países de influência da religião e da cultura predominante entre os árabes, entraram em conflito com a nova realidade e se comportaram segundo a visão de que “todo mundo tem que ser feliz e não apenas eles”.
No terceiro mundo, esse conflito se manifesta pela desorganização social e o sentimento de que “o cidadão de bem fica preso e os bandidos soltos”. De uma outra perspectiva, é como passaram a se sentir os cidadãos dos países alvo desse ódio ideológico-religioso-social-econômico.
Os atentados praticados nesses países é a expressão mais visível dessa situação. Então, os nacionais se fecham aos estrangeiros e o fazem a partir de atitudes como essa dos britânicos, que não querem mais fazer parte do bloco econômico europeu, colocando em xeque a nova ordem capitalista, iniciada logo após a Segunda Guerra Mundial, com o bloco econômico Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) e consolidada com a criação da União Europeia em 1992.
Esse movimento rebelde encanta os jovens, situação facilitada pelo advento da internet. As distâncias já não existem e os novos rebeldes são recrutados de forma virtual. Afinal, em países democráticos a internet não sofre as mesmas restrições que nos Estados autocráticos, que a tudo veem e a todos controlam.
O risco que a humanidade corre é que tudo isso resulte numa grande desordem mundial, que transcenderá o Primeiro Mundo e chegará ao Terceiro Mundo, o Brasil incluído. Ninguém se iluda. Em tempos de comunicação instantânea, o princípio da autoridade está ameaçado e podemos retroceder ao tribalismo globalizado”.