Educação e cidadania na sociedade digital

Por Maria Alexandra Cunha e Paulo Roberto Miranda

Crianças e jovens devem se relacionar criticamente com mídias e conteúdos

Nossas crianças e adolescentes serão cidadãos e cidadãs em 10 ou 15 anos. Pensa-se que já nasceram digitais, dominam os dispositivos e aprendem a usá-los sem esforço. Mas, se depender do mercado, das corporações de mídia e das empresas de tecnologia, estão condenados ao mero consumo de produtos e conteúdos digitais. É nossa responsabilidade ajudá-los a serem capazes de se relacionar criticamente com as mídias e conteúdos, a exercerem a sua cidadania numa sociedade digital.

A sociedade digital é um tópico importante para os municípios. A estratégia digital para uma cidade é multidimensional e envolve diferentes áreas de governo. É preciso pensar no acesso, construir ou negociar a infraestrutura que irá assegurar aos cidadãos a conectividade em todo o território, diminuindo as desigualdades; organizar a gestão e os serviços digitais, o uso de recursos e sistemas digitais para a melhoria do funcionamento do município e das relações com os cidadãos; pensar em inovação com tecnologia.

Um aspecto relevante é a cultura digital, que tem foco na educação, no estabelecimento de projetos pedagógicos para o desenvolvimento digital de forma ampla, ultrapassando o papel instrumental da tecnologia na capacitação dos professores, na integração das escolas e na relação com as famílias. É a sala de aula, na rede municipal de ensino, o lugar onde podemos dar a crianças e jovens a oportunidade de se desenvolverem plenamente enquanto cidadãos de um mundo de tecnologias e mídias digitais. O professor tem um papel fundamental: é um mediador do processo, mentor de alunos e alunas em suas trajetórias.

É preciso inovar no ensino público, desde a educação infantil e o ensino fundamental. O estudante precisa perceber utilidade, precisa gostar, precisa querer aprender. Passa por ter bons prédios, bem conservados e equipados, professores capacitados e comprometidos, merenda de qualidade e materiais didáticos.

Mas, numa sociedade digital, há mais a suprir. As mídias e a tecnologia são recursos poderosos quando articulados ao projeto pedagógico. São linguagens diferentes, recursos para enriquecer o processo de ensino e aprendizagem. Abrem janelas para além da sala de aula. Meninos e meninas têm o direito de construir seu conhecimento de forma lúdica, divertida, aprender a aprender. E de trocar experiências, trabalhar com outros jovens, desenvolver habilidades sociais.

Num ambiente que propicia trocas de experiências, estudantes desenvolvem habilidades de colaboração, liderança, respeito ao espaço do outro. Formam-se cidadãos e cidadãs. Há exemplos em curso, como construir conhecimento a partir de experiências de jornalismo juvenil em meios digitais ou produzir videodramaturgia no ambiente escolar —ou ainda registrar suas visões de mundo e de futuro a partir da realidade que vivenciam em suas comunidades e trocar esses registros com estudantes de outras comunidades. Quando crianças constroem um robô a partir de sucata, elas aprendem que uma tampinha pode se transformar no olho piscante do robô, na roda de um carro, nas luzes do semáforo; mas, sobretudo, aprendem a colaborar e a organizar o pensamento e o trabalho para resolver problemas.

Se crianças e adolescentes, hoje, construírem sua cidadania com o apoio de tecnologia, a médio prazo terão uma inserção crítica na sociedade digital, diminuirão a pressão por ações de redução da exclusão digital e usarão a tecnologia para o que quiserem: lazer, cultura, trabalho, serviços públicos, organização social e política, participação democrática.

 

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