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Raphael Di Cunto

Brasília – O sentimento de mudança que tomou conta da política brasileira depois das manifestações de junho de 2013 não tem dificultado a reeleição apenas da presidente Dilma Rousseff. Levantamento do Valor nas pesquisas de intenção de voto mostra que os governadores estão com maior dificuldade de se reelegerem este ano, ou fazerem seu sucessor, do que em 2010.

Dos 18 governadores que tentam a reeleição, apenas quatro lideram isolados as pesquisas de intenção de voto: São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Acre. Outros cinco disputam a dianteira, empatados tecnicamente em 1º lugar, e o resto aparece na segunda colocação. O caso mais crítico é no Amapá, onde Camilo Capiberibe (PSB) tem o apoio de apenas 12% dos eleitores, o que o deixa numericamente como terceiro na disputa.

Nos oito Estados onde o atual governador escolheu um sucessor, a oposição lidera com folga. Em Alagoas, o candidato do governador Teotônio Vilela (PSDB) – que foi substituído já com a eleição em curso – tem apenas 2% das intenções de voto. No Rio Grande do Norte, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) estava tão mal avaliada que o partido vetou sua reeleição e não indicou sucessor.

A oposição está em primeiro nas pesquisas em 23 Estados – em 18, de forma isolada. Cenário bem diferente da eleição de 2010, quando os oposicionistas lideravam em apenas nove Estados nesta fase da campanha e disputavam a dianteira, com empate técnico, em outros quatro. Os governistas eram favoritos em 14 Estados e ao fim/eleição venceram em 17 locais, contra 10/oposição.

A explicação para cenários tão discrepantes, avaliam cientistas políticos e militantes partidários, é o sentimento de mudança expresso nas manifestações de 2013 e, em certa medida, ao atual cenário econômico. Há quatro anos, a eleição ocorreu com crescimento do PIB de 7,5%, enquanto os economistas estimam alta de 0,79% este ano, segundo o Focus, do Banco Central.

“Em 2010, no embalo do governo Lula, que era de crescimento muito forte, o clima político era bastante favorável a todos os governantes”, afirma o secretário de organização do PT, Florisvaldo Souza. “Hoje o ambiente político ficou mais pesado para os governantes de uma forma geral. Criou-se um sentimento muito negativo por influência da imprensa, mas acho que isso vai passar com o horário eleitoral”, afirma.

Há quatro anos, contudo, quem liderava as pesquisas para os governos estaduais antes do início da propaganda eleitoral na TV venceu em 65% das vezes, mostra o levantamento do Valor. O número salta para 73% se considerados os casos do Amapá e Rondônia, onde as sondagens indicavam derrota do governo, mas por candidatos diferentes da oposição. Só houve virada em quatro Estados – nos outros a pesquisa apontavam empate.

O cenário pode mudar com o início da propaganda na semana passada. Em seis Estados – RJ, RR, DF, MA, MG e PE- o candidato que está em segundo lugar – e que representa o governo- tem muito mais tempo de TV que o 1º colocado e terá mais visibilidade.

O deputado e secretário-geral do PSDB, Mendes Thame, ressalta que as pesquisas de 2010 apontavam para a continuidade das ações do governo, mas hoje mais de 70% dos entrevistados pedem mudanças na condução do país. “Quando a população quer mudança a nível federal, é muito plausível que esse desejo se estenda também aos outros níveis federativos porque é muito difícil distinguir de quem é a responsabilidade”, diz.

“As manifestações refletiram e geraram grande insatisfação com os governantes”, diz o professor Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas. “A grande incógnita nem é a dificuldade da maioria de se reeleger, mas como um pequeno grupo, vide Geraldo Alckmin em São Paulo, consegue ter muito sucesso já no primeiro turno.”

Um sentimento de mudança já foi verificado nas eleições de 2012, quando houve uma grande queda na taxa de reeleição dos prefeitos de capitais, com quatro dos oito que tentaram renovar o mandato derrotados. Em 2008, o índice foi de 95% – só um não teve sucesso.

O levantamento foi feito em pesquisas Datafolha e Ibope de julho e agosto anteriores ao horário eleitoral, com exceção do TO, PB, ES e MA, onde foram consultadas pelo menos duas sondagens de empresas diferentes por falta de pesquisas destes institutos.

Publicada no Valor Econômico em 26/08/14

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