O combate ao feminicídio é um desafio coletivo

Por Roberto Fonseca, jornalista do Correio Braziliense.

“Eu vou pedir perdão pela força das palavras que eu vou usar. Eu toquei no corpo dessas mulheres que foram mortas, literalmente. Eu lavei esses corpos. Eu contei as feridas. Eu entrei na casa dessas mulheres. Eu vi o filho chegando e vendo o corpo da mãe”.

O relato da diretora da Divisão de Perícias Externas do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal, Beatriz Figueiredo, impressiona. Choca. Perita criminal há 10 anos, Beatriz participou, ao lado de outros 12 palestrantes, do Combate ao Feminicídio: uma responsabilidade de todos, seminário promovido pelo Correio para discutir ações efetivas para enfrentar a onda de assassinato de mulheres que assola o Distrito Federal — e o país.

Durante mais de cinco horas e 15 minutos, autoridades e especialistas fizeram uma análise multidisciplinar sobre o assunto, com uma conclusão que precisa nortear as políticas públicas: não basta apenas punir os assassinos, são necessárias medidas para lidar com as consequências do feminicídio, como promover uma rede proteção para os órfãos, atacar a cultura do machismo, reforçar as delegacias especializadas e dar visibilidade às mulheres negras, que são as vítimas mais visadas.

Em meio ao isolamento social, devido à pandemia de covid-19, a situação de violência contra a mulher piorou muito no início desta década. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nos últimos dois dias, mostram um aumento considerável nos casos de feminícidios e da violência doméstica desde 2021. Sim, é muito inseguro ser mulher no país. É revoltante saber que um a cada cinco feminicídios ocorre no domingo, sendo que o fim de semana concentra 37% das ocorrências — justamente quando a família fica mais tempo reunida.

Sabemos que o machismo enraizado na sociedade brasileira é um dos focos que precisam ser combatidos com urgência. A misoginia existe e deve ser atacada sempre. Se um amigo faz um comentário machista, critique. Não tenha medo de tentar reconfigurar a mente das pessoas.

Outro ponto fundamental é reforçar políticas públicas educacionais em defesa das mulheres e dos direitos humanos. Denunciar os casos também se mostra fundamental. Fechar os olhos para o que ocorre ao redor não é correto. Encarar e transformar essa realidade é uma responsabilidade coletiva.

P.S.: O decreto presidencial assinado ontem que restringe o acesso de civis a armas e munições deve ser celebrado. Menos revólveres em mãos erradas, menos feminicídio e menos violência.

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