Por: Alexandre Schwartsman
Doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor do Banco Central do Brasil
14Com a recuperação da economia global, também a inflação voltou. Mesmo em países desenvolvidos, com raras exceções, a inflação superou níveis há muito não observados, o que deve levar a alterações nas posturas dos principais bancos centrais. O Federal Reserve já anunciou um plano para reduzir o grau de estímulo monetário nos próximos meses e se espera que comece a subir a taxa de juros ao longo de 2022, processo que já está fortalecendo o dólar globalmente e deverá prosseguir no ano que vem.
A pressão do dólar, somada ao aumento dos preços internacionais de commodities, fez a inflação subir no país. Embora inicialmente o fenômeno fosse mais restrito a alimentos e combustíveis, cujos preços refletem os internacionais, há indicações que se tornou mais disseminado e persistente a partir de meados de 2021, como expresso na proporção de itens do IPCA que registram aumento de preço num mês, hoje similar ao observado em 2015-16, período de inflação também muito alta.
Em resposta à percepção de inflação mais disseminada e, principalmente, persistente, a inflação esperada à frente se acelerou. Com isto, o Banco Central se vê forçado a elevar a taxa de juros, que deve terminar o ciclo de aperto monetário perto de 12% ao ano.
Deste modo, a atividade econômica – que “anda de lado” desde o início do ano – deve sofrer retração adicional, conforme se percebe em revisões para baixo das perspectivas de crescimento.
A inflação tem ajudado as contas públicas, reduzindo o valor real das despesas e também corroendo a dívida pública. Trata-se, todavia, de fenômeno temporário: o reajuste do salário mínimo, por exemplo, deve pressionar as despesas no ano que vem; da mesma forma, o aumento da taxa de juros fará a dívida crescer mais rápido.
São muitos os desafios para o país e uma atuação mais decidida em termos de reforma é essencial para a retomada do crescimento sustentado.