Marcio Coimbra, presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionaise Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.
A retomada da imagem do Brasil na frente internacional é uma das metas do governo eleito, e a agenda ambiental é o principal atalho para esse objetivo. A pauta ajuda a abrir rotas de comércio, caminhos dentro de uma nova economia e a liderança do país em fóruns internacionais. Um caminho negligenciado nos últimos anos e que se apresenta agora como um trunfo para o resgate da imagem externa brasileira. Internacionalmente o país se tornou interlocutor respeitado no assunto logo depois de sediar a Rio 92, conferência internacional das Nações Unidas que recebeu dezenas de chefes de Estado e de governo, assim como lideranças ambientais e ONGs para amplo debate sobre os rumos da questão ambiental. A partir daquele momento, o Brasil, que retomava sua democracia, adquiria legitimidade real para tratar do tema.
Naquele momento, o Brasil se tornou pioneiro em criar uma estrutura governamental para sistematizar o setor. Detentor de uma das mais importantes biodiversidades do mundo, nosso país buscou conciliar uma agenda de desenvolvimento aliado a preservação, o que se passou a chamar de desenvolvimento sustentável. Assim passou a liderar a pauta em nível mundial como interlocutor indispensável na área.
Tanto na esfera multilateral, como nas relações bilaterais, a agenda ambiental fez parte importante da nossa política externa como tema relevante e estratégico. Isso significa, em outras palavras, que a percepção internacional do Brasil passou a transitar também por esse assunto.
Assim, nosso país se tornou um player relevante na matéria, servindo de referência ao longo dos anos em política ambiental por diversos governos — com um hiato nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro, que, ao rejeitar a agenda, perdeu grande oportunidade de trabalhar de forma estratégica um tema que colocava nosso país nas grandes negociações e discussões internacionais.
Uma política de enfrentamento, como experimentou o governo que se despede, pode acarretar prejuízos internacionais. É responsabilizado, entre outras coisas, pelo atraso no acordo entre Mercosul e União Europeia devido à forma com que as lideranças brasileiras têm tratado o desmatamento desenfreado na Amazônia e isolou o Brasil no plano das discussões externas, colocando o país em uma espécie de quarentena internacional.
Os prejuízos foram sentidos inclusive no agronegócio, que não quer perder negócios e sente a pressão internacional diante da omissão de Bolsonaro por escolhas sustentáveis. Maior desmatamento de todos os tempos, queimadas na Amazônia, lideranças ambientais assassinadas. O Brasil precisa de uma mudança de discurso e postura.
A coalizão eleita em torno de Lula sabe disso e a articulação para participar da 27ª Conferência das Partes da ONU para Mudanças Climáticas é a primeira grande sinalização do novo presidente eleito. Diz ao mundo, no maior palco de discussão do assunto que estamos prontos para fazer diferente e o Brasil quer assento em todas as importantes discussões.
Ao que tudo indica, no Egito, o Brasil começará a retornar para uma postura responsável e de protagonismo diante de um tema sobre o qual exerce liderança natural. Melhorar a imagem brasileira significa mais investimentos para o Brasil, voltar a ter trânsito nos organismos internacionais de forma consistente e ser ouvido em fóruns correlatos responsáveis por gerar liderança também em outros temas relevantes.
As sinalizações são boas para o Brasil dos próximos anos. O presidente eleito foi informado que Alemanha e Noruega retornaram os financiamentos do Fundo Amazônia. No palco da COP27, o presidente eleito ofereceu o Brasil como sede da conferência em 2025. Um movimento que colocará o nosso país no centro da discussão ambiental, retomando sua liderança e capacidade de articulação internacional.
Assim como no período pós-Rio-92, é inteligente voltar a liderar essa agenda como o mais importante player internacional em política ambiental. Uma estratégia de longo prazo com benefícios políticos e sociais, além dos reflexos positivos diretos na imagem internacional do Brasil.