Márcia Maia é deputada estadual (PSB-RN)
Toda a criança sonha em ser um superheroi, ter poderes sobre-humanos, a capacidade de superar o impossível, transformar sonhos em realidade. A escolha dos pequenos é uma metáfora do sonho de mudar a própria vida, uma busca por uma razão de ser longe das dores da realidade. Em 2016, herois vistos apenas na imagem fria de aparelhos de TV estarão mais próximos do que, um dia, esses jovens poderiam imaginar.
Mas a chegada de tantos herois, inevitavelmente, trará os vilões que, sem dó, ameaçarão não apenas os sonhos, mas também a vida e o futuro de cada um desses jovens. Um Megaevento, como as Olimpíadas, que ocorrerá no Brasil neste ano, mobiliza os atores do esporte, mas também as violações de Direitos Humanos.
Um evento desta dimensão pode provocar um superdimensionamento desastroso nos casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Em meio a um grande evento como esse, o país tem uma oportunidade para se mobilizar em favor do tema. Há uma lição a ser absorvida por toda a sociedade em função da morte da pequena Araceli Cabrera Sanches, de então oito anos, cuja inocência foi violentada e a vida ceifada após ser drogada por membros de uma tradicional família.
A cada dia, temos a oportunidade de um novo ponto de partida, de um recomeço para reforçar e relembrar a obrigação do Poder Público e da sociedade, de forma geral, em criar mecanismos para fortalecer e oferecer uma rede de proteção eficiente para esses pequenos sonhadores. É preciso regionalizar Delegacias da
Criança e do Adolescente; compor um orçamento que permeie a prevenção; articular setores, determinar uma matriz clara de responsabilidades e estimular o protagonismo juvenil.
A exploração sexual de crianças e adolescentes ainda é um desafio a ser superado pelo estado brasileiro, mesmo com 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Diante de tanto a fazer, é cristalino o objetivo de cada uma das crianças e adolescentes ao escolher um heroi, seja super ou não: o vislumbre de salvação. Nós, pais, mães, tios, avós, conselheiros tutelares, vereadores, deputados, prefeitos e governadores, eu e você, somos os únicos capazes de promover atos de heroísmo necessários a esses jovens.
Ainda que sem capa, a coragem da sociedade em confrontar essa mazela corruptora e a vontade de transmutar sonhos em verdade serão os únicos capazes de garantir um amanhã apenas de herois, sem a ameaça da vilania silenciosa da exploração sexual e da desigualdade social.