É justo que produtos importados tenham impostos mais baixos?

Por Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela.

Poder 360

O consumo tem uma série de dimensões, e vai muito além de aspectos do comportamento do cidadão. Compreende uma infinidade de conceituações econômicas, questões culturais, ambientais e sociais. É algo cada vez mais analisado e considerado pela sociedade. Movimenta governos, diferentes segmentos produtivos, a coletividade e tem, claro, um aspecto muito particular de psicologia e individualidade.

Há um debate corrente –e que bom que esse debate cresce a cada dia– sobre a importância do consumo consciente, com ênfase em sustentabilidade e adequação ao bem-estar do conjunto da sociedade a partir daquilo que se adquire.

Nesse particular, é necessário dizer que todo setor de atividade humana que seja responsável e colabore com um futuro melhor para a sociedade no seu todo não pode ignorar que o consumo responsável é uma grande meta.

Os aspectos do consumo responsável com os preceitos ambientais e sociais são grandes e variados. Por exemplo, a sustentabilidade da forma que se produz e a questão do emprego com condições dignas de trabalho para quem produz.

Um levantamento do Instituto Locomotiva traz importantes insights em um tema que tem muita relevância no momento. Trata-se da opinião dos brasileiros quanto as compras por sites internacionais de e-commerce e a isenção nos produtos valorados em até US$ 50 que o governo federal implementou em 2023 por meio do Programa Remessa Conforme.

Ao mesmo tempo que a regularização das compras internacionais é um enorme avanço para a sociedade, a isenção das compras de até US$ 50 provoca um desequilíbrio ao varejo nacional ante competidores internacionais. O programa agregou também a necessidade de discussão sobre milhares de encomendas que chegam a todo momento ao país, e sobre a adequação de uma infinidade de produtos ao Código de Defesa do Consumidor.

O estudo ouviu a opinião de pessoas de todas as regiões do país para o consumo por meio dessas plataformas. A pesquisa desdobra-se em 5 dimensões:

  • isonomia tributária;
  • criação de emprego e renda;
  • condições de trabalho;
  • direitos do consumidor;
  • e sustentabilidade.

Trazendo as opiniões do consumidor para esses universos, a pesquisa permite observar como há muita lucidez do brasileiro quando se trata de consumir –com o brasileiro se colocando atento a temas tão relevantes como essas dimensões trazem. Mesmo que exista um certo “senso geral”, que sugere que as pessoas querem mesmo é correr atrás de promoções e pagar sempre mais barato em qualquer coisa.

No aspecto da isonomia tributária (um jeito elegante de falar de direitos e obrigações entre empresas que produzem no Brasil e as empresas asiáticas), nada menos que 8 em 10 respondentes consideram que a diferença tributária é injusta.

Também 8 em cada 10 pontuam que justiça na cobrança de impostos é muito importante para o futuro do país, e 75% reconhecem que empresas brasileiras de vestuário pagam mais impostos que os e-commerces internacionais.

Quando tratamos de criação de emprego e renda, o levantamento indica que 3 em cada 4 brasileiros consideram que as empresas brasileiras de vestuário pagam mais impostos do que as empresas asiáticas. Isso prejudica o surgimento de novos postos de trabalho no Brasil.

Algo que a pesquisa trouxe, e que chama também muita atenção, está na dimensão das condições de trabalho relacionadas a produção no país e aquela que se dá para os produtos que chegam ao país pelos e-commerces. Um dado muito relevante indica que o brasileiro é consciente quando pensa sobre consumir: só 1 de cada 10 brasileiros não se preocupam com as condições de trabalho e remuneração de quem produz suas roupas.

E quando abordamos a questão dos direitos do consumidor, 75% responderam acreditar que enfrentariam mais dificuldades para conseguir devolver ou trocar um produto em empresas de vestuário asiáticas.

Já quando questionados sobre sustentabilidade e meio ambiente: 86% responderam concordar com a afirmação: “Valorizo comprar roupas, calçados e acessórios produzidos de forma sustentável, que não agridem o meio ambiente”. Outros 85% concordam com a frase: “Me sentiria mal sabendo que as roupas, calçados e acessórios que comprei contribuíram para a destruição do meio ambiente”.

Esses são apenas alguns dos insights da pesquisa que colabora para que o país continue refletindo sobre o consumo nas suas diferentes dimensões.

Compartilhar
Artigos Relacionados
Estratégia climática é urgente

Por: Paulo Hartung/ José Carlos da Fonseca JR. Folha de S.Paulo A jornada de enfrentamento da crise climática nos possibilita tirar,

Pular para o conteúdo