A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou sessão solene para marcar o Dia Mundial de Combate ao Câncer, cuja data oficial é 4 de fevereiro. A reunião ressaltou a importância da prevenção e da precocidade no diagnóstico como fatores fundamentais para o sucesso no combate à doença. Além disso, divulgou o trabalho realizado em instituições saúde que atendem pelo SUS ou realizam trabalho voluntário com apoio da sociedade civil.
O deputado Jorge Vianna (PSD), autor do requerimento que deu origem ao evento foi o primeiro a falar, relatando a importância do evento para o trabalho de prevenção. “É necessário que a população seja informada sobre o ciclo de combate ao câncer, que envolve, prevenção, detecção e tratamento. É fundamental fazer o diagnóstico precoce. A secretaria de Saúde oferece exames de prevenção como o papanicolau, mamografia e o exame de próstata. Precisamos fortalecer o SUS para que a saúde pública possa atuar com mais eficácia em cada uma das três frentes. Com acolhimento e sensibilidade a batalha contra a doença fica muito mais fácil”, disse o parlamentar. O papanicolau é um exame simples e rápido que colhe células do colo do útero para análise em laboratório, tendo como principal objetivo a prevenção contra o câncer de colo de útero.
Chefe da Assessoria de Política de Prevenção e Controle do Câncer, o médico oncologista Gustavo Bastos Ribas participou como representante da secretaria de Saúde DF e reforçou o valor da prevenção no combate ao câncer. “No DF temos estimados 7.200 novos casos de câncer para esse ano. Sabemos que 40% da incidência estão relacionados aos hábitos de vida. Por isso, precisamos atuar nesse fator de forma efetiva e duradoura. Apenas 10% estão relacionados às condições genéticas e agora há o advento da oncogenética, que permite abordar esses pacientes de forma preventiva”, afirmou o médico. Segundo ele, conforme preconizado na secretaria, a paciente tem acesso ao exame de mamografia a partir de 50 anos na rede pública de saúde. O Papanicolau é liberado a partir dos 24 anos e vai até os 65 anos. Já a colonoscopia é feita a partir dos 50 anos.
Fluxo
Ribas também explicou como é o fluxo de atendimento para prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer no sistema público. Há duas leis federais sobre a questão. A lei 12.732/2012, conhecida como lei dos 60 dias, determina que a partir do diagnóstico, em prazo máximo de dois meses, seja instituído o primeiro tratamento cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico ao paciente oncológico.
Já a lei 13.896/2019, conhecida como lei dos 30 dias, determina que, a contar da primeira suspeita, o sistema público deve atender o paciente para realizar exames diagnósticos neste prazo máximo. “O fluxo assistencial se dá na atenção básica. Uma vez que há suspeita identificada, o paciente é inserido no processo de regulação do sistema público de saúde. Então, é encaminhado às unidades secundárias para que sejam feitos a avaliação e o diagnóstico. Caso necessário, o paciente é encaminhado para as unidades de alta complexidade”, esclareceu.
Regulação
Entre os participantes, representando a Rede Feminina de Combate ao Câncer, Ana Paula Soares Fernandes sugeriu que o paciente oncológico seja tratado como uma prioridade específica no sistema de regulação, facilitando a realização de exames de alta complexidade como a tomografia, por exemplo. “O câncer é uma doença complexa, que ameaça nossa vida. Quando há necessidade de uma tomografia, o paciente oncológico está sujeito ao mesmo sistema de regulação, incluído na mesma fila. Todos precisam do exame, mas será que todos os tipos de doença têm o tempo correndo no relógio como o câncer? E não tem na lei qualquer previsão para isso. Ano passado a Rede Feminina fez uma opção de não realizar campanha pela mamografia, mas sim pela tomografia porque as mulheres não retornavam, pois não conseguiam fazer a tomografia. Minha ideia é tratar o paciente oncológico em uma prioridade específica neste sistema de regulação”, sugeriu a psicóloga. O deputado Jorge Vianna concordou com a proposta.
A superintendente-executiva do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, Dra. Valdenize Tiziane registrou que no caso de câncer infantil não há prevenção. “A criança precisa ser atendida imediatamente. Não pode entrar no sistema de regulação porque o acesso rápido ao tratamento é fundamental para o sucesso. As células multiplicam-se muito rapidamente e se a atuação não for imediata, a gente acaba perdendo a criança”, afirmou. Ela registrou ainda que o sucesso do trabalho se reflete em números. “Temos aumentado significativamente nossas taxas de cura, que hoje estão perto de 80%, semelhantes aos países desenvolvidos. Já foram atendidas mais de 2 mil crianças e temos uma média de 200 casos novos por ano. Esse é um patrimônio de Brasília, que precisa ser cuidado e levado adiante”, relatou.
No mesmo sentido, o diretor-geral do Hospital de Apoio de Brasília, Dr Alexandre Lyra Lisboa disse que a instituição atua principalmente na área de cuidados paliativos oncológicos, sendo um hospital que atende 100% SUS. “Temos uma equipe multidisciplinar que analisa e trabalha para que o paciente tenha uma qualidade de vida, mesmo que seja no final da sua vida”. Ele testemunhou sobre a prevenção para o sucesso do combate ao câncer. “Sou prova viva da importância da prevenção. Há seis anos fiz meu periódico e tinha alteração no exame. Corri atrás, fiz a cirurgia e hoje estou aqui curado. Faça o papanicolau, a ultrassonografia de mama, o exame proctológico, a colonoscopia, a endoscopia digestiva alta. Faça! Não deixe para depois, porque esse depois pode ser que você tenha perdido o tempo de tratar o câncer”, conclamou.
Chefe da Assessoria de Relações Institucionais do Iges-DF, Delmo Menezes reforçou a importância das questões relacionadas à prevenção. “Todos temos pessoas que já foram acometidas pela doença. Eu mesmo já perdi sobrinhos e uma irmã. Agora meu pai está lutando neste momento contra o câncer de pele. Essas iniciativas precisam ser feitas”, disse.
Ajuda solidária
Médico da Oncologia e Hematologia do Hospital da Criança de Brasília, Dr. José Carlos Martins Córdoba ressaltou como o apoio da sociedade civil é relevante para o trabalho. “Não tem como prevenir o câncer da criança, mas tem como tratar. O tratamento é complexo, exigindo atenção de vários setores da saúde e muita ajuda da sociedade civil, que foi fundamental para chegarmos até aqui. Antes, havia um índice de abandono do tratamento em torno de 40% e hoje isso reduziu muito, principalmente, devido a esse sistema de apoio”, afirmou.
A história do Hospital da Criança começou com a equipe que atua há 40 anos, inicialmente no Hospital de Base, depois no Hospital de Apoio. Em 2011 foi inaugurado o bloco 1, totalmente construído e equipado pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), permitindo condições ideais para o atendimento de crianças com câncer. Em 2018, começou a funcionar o bloco 2, que prevê ala de internação e ala hospitalar. “Desde então, podemos dar um tratamento integral. Como exemplo dos resultados proporcionados pelo trabalho que envolve a sociedade civil. Cito o laboratório de pesquisa translacional, que foi viabilizado com arrecadação das campanhas do Mc Dia Feliz, quando toda renda obtida com a venda do principal sanduíche da rede é revertida para instituições de combate ao câncer. O laboratório nos permite fazer um diagnóstico molecular, de precisão. Assim, cada criança tem um diagnóstico individualizado com a possibilidade da medicina de precisão e da terapia alvo para casos em que já existem medicamentos e a tecnologia disponível”, relatou Valdenize. Outro exemplo citado foi a arrecadação de recursos do Fundo da Criança e do Adolescente que permitiu investir R$10 milhões em equipamento de ressonância nuclear magnética. “Isso tudo é um patrimônio público à disposição de toda a saúde do DF”, finalizou a superintendente-executiva.
Por sua vez, a Rede Feminina faz um trabalho voluntário no Hospital de Base há mais de 26 anos e tem ajuda de doações para levar à frente o suporte a pacientes tratados no serviço público de saúde. “Atendemos o paciente que está em uma situação vulnerável. Por exemplo, a pessoa que trabalha por diária, sem carteira assinada, e quando vai fazer o tratamento fica sem renda. Então ajudamos com cesta básica, pagando para fazer algum exame, ou quitando contas do cotidiano, como de energia e gás. Além disso, oferecemos apoio emocional com atendimento psicológico e construímos um pequeno salão de beleza dentro do Hospital de Base para apoiar com questões de autoestima. Também doamos prótese mamária externa para usar enquanto a paciente não pode fazer a cirurgia reconstrutora da mama. Tudo isso é feito com ajuda da comunidade, de doações. Nossa missão é doar amor, enxugar lágrimas e provocar sorrisos”, contou Ana Paula.
História
O Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado dia 04 de fevereiro, é uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Tem por objetivo promover a conscientização e a educação das pessoas e influenciar entidades governamentais sobre a prevenção, tratamento e controle do câncer.
Já o Dia Nacional foi criado por meio da Portaria do Ministério da Saúde GM nº 707/1988, sendo celebrado em 27 de novembro, tem como objetivo ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer, principalmente sobre a sua prevenção.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil poderá ter 704 mil novos casos de Câncer, sendo aqueles relacionados à mama e à próstata os de maior incidência.
Ao fim da solenidade, foram entregues moções de louvor pelos relevantes serviços prestados à população do DF em defesa da vida por ocasião do Dia Mundial de Combate ao Câncer.
Fonte: CLDF