O viúvo de advogada Letícia Curado, Kaio Fonseca Curado de Melo, participou da audiência pública de enfrentamento ao feminicídio na manhã desta terça-feira (10) no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal. No caso que mobilizou o DF no mês passado, a servidora pública Letícia Curado foi assassinada pelo cozinheiro Marinésio Olinto, que confessou ter matado a jovem porque ela se recusou a manter relações sexuais. “Hoje não tenho projetos, não tenho sonhos, não tenho Letícia”, disse Kaio Melo, bastante emocionado.
“Quantas vezes uma mãe vai chorar, um pai, um filho?”, indagou a mãe da assistente social Pedrolina Silva, morta a facadas neste mês em um matagal perto do Lago Paranoá. Neste ano, dezenove mulheres morreram vítimas de feminicídio no DF. Os deputados Fábio Felix (PSOL) e Arlete Sampaio (PT), mediadores da audiência, querem a instalação de uma CPI na Casa para tratar sobre o tema.
“Ou nos articulamos e adotamos políticas de prevenção ou perderemos mais mulheres”, alertou o juiz de Violência Doméstica do Núcleo Bandeirante e coordenador do Núcleo Judiciário da Mulher, Bem-Hur Viza. Segundo o magistrado, o trabalho nas varas especializadas implica o aprofundamento da matéria. “Precisamos desconstruir os estereótipos de gêneros”, considerou Viza. Do mesmo modo, a coordenadora dos núcleos de direitos humanos do Ministério Público do DF, Mariana Távora, citou a raiz brasileira do patriarcado e defendeu a prevenção primária nas escolas por meio do conceito de igualdade de gêneros e divulgação da Lei Maria da Penha.
Também o deputado Leandro Grass (Rede) argumentou pela ampla mobilização e educação no enfrentamento ao feminicídio, principalmente nas escolas. Nesse sentido, a procuradora da Mulher da CLDF, deputada Júlia Lucy (Novo), anunciou a realização da Semana da Lei Maria da Penha nas escolas do DF, com palestras de conscientização, distribuição de cartilha e vídeos no youtube. O evento acontecerá na última semana de novembro. Ainda em apoio à questão, o presidente da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (CEOF), deputado Agaciel Maia (PR), comprometeu-se a acatar as sugestões de fortalecimento das políticas públicas de mulheres. Já a secretária de Mulheres do DF, Ericka Filippelli, anunciou um acordo junto aos bancos para reativar a Casa da Mulher Brasileira.
Ato – Várias representantes de movimentos, comissões e coletivos de mulheres se manifestaram contra os índices crescentes de violência e feminicídio no DF, como a coordenadora do CFEMEA, Joluzia Batista. Ela protestou contra o discurso machista que se refere a esses casos como “mimimi de mulher”. Para Batista, o monitoramento contra a violência precisa ser constante. Com o pleito “Pela vida das mulheres exigimos segurança já!”, o Fórum em Defesa dos Direitos das Mulheres do DF e Entorno fará ato em frente ao Palácio do Buriti hoje à tarde.
Ainda durante a audiência, sob os gritos de “fora daqui”, o fundador do Instituto Homem, Luiz Gonzaga de Lira, foi expulso do plenário. A associação apoia homens enquadrados na Lei Maria da Penha.