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Deputada Estadual           . Luana Ribeiro (PR-TO)

“As mulheres e suas vontades

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Sábia frase de Luis de Camões, principalmente quando o que antes era prioridade passa a ser nada mais do que algo corriqueiro. O dia 8 de março, por exemplo, Dia Internacional da Mulher, foi instituído porque representava uma vontade, um marco na história. E hoje, muitas vezes passa batido porque nem as mulheres sabem a importância da data, ou até mesmo porque não têm o que comemorar.

A data tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito de voto, no início do século XX, na Europa e nos Estados Unidos. Naquela época, as mulheres saíram de suas casas, das cozinhas das “casas grandes e das senzalas”, parafraseando Gilberto Freyre, para serem seres economicamente ativos e respeitados. Para isso, foram às ruas, muitas perderam suas vidas e, consequentemente, as conquistas foram alcançadas.

As evoluções vieram paulatinamente, através de inúmeros movimentos feministas e de mulheres que por si só não se contentaram com o razoável. No entanto, as preocupações foram mudando com o tempo. Se antes o grande foco era melhores condições de vida e trabalho, hoje, as mulheres têm que lidar, no dia a dia, com uma grande ameaça: a violência doméstica.

Segundo pesquisa do Instituto Patrícia Galvão em parceria e com apoio do Instituto Avon, realizada em fevereiro de 2009, 56% das brasileiras dizem que sua principal preocupação é com a violência contra elas dentro de casa. Além disso, 51% temem o crescimento da AIDS entre o sexo feminino e a violência e o assédio sexual fora de casa.

Outra pesquisa realizada pela Secretaria de Segurança, Cidadania e Justiça do Tocantins relata que elas também são vítimas de violência na rua, como estupro e tentativa de estupro. De acordo com números de 2009, 76 mulheres foram estupradas no Estado e, em 2010, esse número caiu para 65. A faixa etária com maior registro de casos é de 18 a 24 anos. Em 2009, 24 mulheres nessa faixa de idade foram vítimas de estupro. Em 2010, o número subiu para 31 registros.

As mulheres ainda estão expostas a outras violências, como a de gênero, intrafamiliar, física, psicológica, econômica ou financeira e institucional. Todas essas, com índices elevados, continuam em evidência, mesmo depois de 2006, quando foi aprovada a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência contra o sexo feminino. Segundo a pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, a lei é mais idealizada do que efetiva, porque ainda não existem, na prática, os mecanismos de perfeito funcionamento dela, como é o caso da Delegacia da Mulher.

Se antes as mulheres queriam direitos iguais, equilíbrio de forças para se chegar a uma democracia plena, onde as diferenças não sejam usadas para justificar as desigualdades, hoje, depois de mais de um século, percebemos que essas vontades foram mal interpretadas. A mulher não quer ser coagida, agredida, assassinada pelos seus parceiros. Ela quer ser digna do seu espaço, das suas competências e exercê-las da melhor forma possível.

A mulher não quer se calar, não quer tomar espaços em postos de trabalho, muito menos ser vitima de qualquer atitude. Ela quer ser, sim, protagonista de um mundo, de um país, de um estado, de uma cidade que pregam a igualdade de direitos, e que homens e mulheres sejam complemento, a soma para se chegar ao ideal de civilidade.

Então, a luta ainda não terminou. Mais um 8 de março será comemorado este ano, mas não apenas para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, e sim pra darmos um grito de alerta contra a discriminação e a violência a que muitas mulheres ainda são submetidas em todo o mundo.

Luana Ribeiro, deputada estadual e Presidente do PR Mulher do Tocantins.

 

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