Oportunizar e materializar soluções práticas para a convivência com as mudanças climáticas em cidades mineiras. Esse é o foco do Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática, idealizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e que selecionou dez iniciativas para receber um investimento de R$ 60 mil, além de participar do Programa de Aceleração do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
Na atual fase do programa, os projetos têm sido demonstrados e testados nos municípios onde serão implementados. Denominada Prova de Conceito (PoC, do inglês Proof of Concept), essa etapa visa medir a viabilidade das soluções, apontando suscetibilidades e necessidades de aprimoramento.
Em Ipatinga (Rio Doce), os testes da TideSat Global Tecnologia e Desenvolvimento ocorreram na quarta-feira, 1º de abril. Já o Município de Florestal (Central) foi cenário de duas demonstrações – uma da Associação Florestalense de Agroecologia (Aflora), realizada na quinta (2), e outra da Biotec Blue, na última sexta-feira (4).
Monitoramento de rios a baixo custo
Um sensor para o monitoramento do nível da água dos rios foi a solução apresentada pela TideSat Global em Ipatinga. De baixo custo e fácil instalação, o equipamento capta o reflexo da superfície do rio, por meio de satélites, para verificar a altura da água. Os dados ficam disponíveis na internet, favorecendo a rápida tomada de decisão em caso de cheias repentinas.
O cofundador da TideSat, Maurício Kenji Yamasaki, explica que a tecnologia permite também que o equipamento seja instalado afastado do corpo d’água. “Então quando acontece uma enchente ou desastre natural muito forte, o sensor fica protegido”, completa.
Essa característica foi essencial no monitoramento das fortes cheias que atingiram, no ano passado, o rio e o lago Guaíba, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na ocasião, os sensores da TideSat foram os únicos a não serem destruídos pelas águas e se tornaram a única fonte de informação sobre o nível do lago para a prefeitura da Capital gaúcha.
O prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes, participou da demonstração da empresa vencedora do prêmio da ALMG e relembrou a forte enchente que atingiu o município em janeiro deste ano.
“O córrego subiu tanto que a escola aqui do lado ficou inundada, perdemos todos os equipamentos. Teve casa com dois metros de água dentro”, conta o chefe do Executivo, que recebeu gratuitamente os sensores da TideSat para o município.
Incentivo financeiro para agroflorestas
Em Florestal, um dos projetos a serem implementados trata de um fundo financeiro solidário para incentivar a criação de Sistemas Agroflorestais (SAF) no município.
Os SAFs, ou agroflorestas, são um modelo de agricultura baseado no cultivo de diversas espécies de plantas e alimentos dentro de uma mesma área, seguindo princípios da agroecologia e de preservação do meio ambiente.
“Quanto mais espécies, mais resistente e resiliente minha área vai ficar. Se a gente observar um ecossistema natural, sempre vai haver uma diversidade muito grande de espécies”, defende Faber Naddeo, técnico agrícola, produtor rural e primeiro beneficiário do fundo criado pela associação Aflora.
O mobilizador da Aflora, Guilherme Mamed, detalha que a ideia é que o fundo possibilite, além dos investimentos financeiros, uma assistência técnica continuada durante cinco anos. Nesse período, prevê-se construção de pequenos módulos de agroflorestas, para que as pessoas possam ganhar experiência e aprendizado.
A partir da assessoria da Aflora, o projeto permite que cada módulo de agrofloresta seja adaptado às características de cada terreno onde será implementado. Outro grande diferencial é a forma de pagamento pela utilização do fundo, que não é feito em dinheiro, mas sim com parte da colheita da plantação do produtor beneficiado.
Biofertilizante de base sustentável
Aliado à estratégia das agroflorestas, um biofertilizante de origem sustentável tem potencializado o plantio de alface, mandioca, abóbora, milho, mamão e outros itens da alimentação, também em Florestal.
O biofertilizante, desenvolvido pela empresa Biotec Blue, é composto à base de microalgas que se alimentam de resíduos industriais da produção de tilápia e cerveja da região. Se não fosse por esse reaproveitamento, os rejeitos seriam jogados na natureza.
O CEO da Biotec Blue, Noreyni Ndiaye, explica que a fabricação sustentável, além de ter um impacto ambiental positivo, também reduz os custos da produção do biofertilizante, que atua como um adubo natural, diminui a erosão e retém a umidade do solo.
A equipe do BH-TEC acompanhou a aplicação do biofertilizante na propriedade do produtor rural Daniel Novaes de Carvalho, como parte da Prova de Conceito. O agricultor comemorou as mudanças trazidas pelo uso do produto da Biotec Blue. “A gente viu uma diferença no crescimento da alface. Foi um crescimento além do que a gente tava acostumado sem a alga”, relatou Daniel.
O produtor rural Marcos Eugênio Taube de Mattos também utiliza o biofertilizante e destacou que, para quem se preocupa em manter um plantio agroecológico e orgânico, o produto supre uma carência de mercado.
Prêmio Assembleia amadureceu empreendimento
A Prova de Conceito da Biotec Blue foi acompanhada por Gleidson Oliveira, especialista em Sustentabilidade do BH-TEC. Ele acredita que a empresa está sendo muito beneficiada pelo programa de aceleração, não somente pela oportunidade de desenvolvimento, mas também por proporcionar tecnologias sustentáveis que trazem impactos positivos na vida das pessoas.
Para Noreyni Ndiaye, a conquista do Prêmio Assembleia permitiu empreender. “Em três meses, a gente mudou uma empresa que ainda estava com um traje acadêmico, visando somente pesquisa, com muita dificuldade de adentrar e obter feedbacks do mercado”, rememora o CEO.
Fonte: ALMG