Para tentar diminuir o tempo de espera na fila e aumentar o número de doações, foi criada em 2007 a campanha “Setembro Verde” alusiva ao Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorado no dia 27, com ações e divulgação de informações em todo o país.
Em Roraima, foi aprovada pelo Parlamento a Lei nº 1.376/2020, que institui a Campanha Permanente de Esclarecimento e Incentivo à Doação de Órgãos, de autoria da ex-deputada Yonny Pedroso. O governo estadual também promove este mês uma série de ações para sensibilizar a população sobre a importância do ato.
Claudemilton de Matos, de 42 anos, sabe bem o que isso significa. Há 12 anos, ele convive com um rim doado pela esposa, após torcer o pé durante uma pescaria, realizar uns exames no Hospital Geral de Roraima (HGR) e descobrir que seus rins estavam atrofiados.
Enquanto estava na fila de espera, Claudemilton precisou fazer hemodiálise. Nesse período, ele teve complicações na válvula aórtica e precisou fazer um procedimento cardíaco. Tempos depois, ele ainda sofreu um AVC (acidente vascular cerebral).
Roraima ainda não realiza cirurgia de transplante. O paciente tem de conseguir o TFD (Tratamento Fora do Domicílio). No caso de Claudemilton, ocorreu em Fortaleza. Ele relembra que seu irmão e sua esposa, Marilene, viajaram com ele até a cidade. O irmão, como possível doador, e a mulher, como acompanhante, devido ao seu estado depois do AVC.
“No hospital, foi descoberto que meu irmão tinha pressão alta e ele não foi autorizado a doar. Minha esposa, então, se candidatou para ser doadora. Graças a Deus, ela foi compatível e pude sair da fila”, relatou Claudemilton ressaltando que qualquer pessoa pode doar em vida órgãos como rim, parte do fígado e medula óssea.
O AVC deixou algumas sequelas em Claudemilton. Ele perdeu parte da força motora do lado esquerdo e, por esse motivo, precisou se aposentar. No entanto, conta que vive normalmente e que é muito grato por ter tido a oportunidade de receber a doação.
“É emocionante. Quem faz hemodiálise, tem que estar regularmente em uma máquina e é um sofrimento para o paciente. Você descobrir que vai receber um órgão e aquele procedimento não será mais preciso, que vai voltar a ter uma vida normal e passar a ter uma sobrevida, é um sentimento de muita alegria e gratidão, sempre”, avaliou.
Atualmente, o aposentado preside a Associação de Transplantados e Amigos de Roraima (Astras), localizada, provisoriamente, numa igreja do bairro Santa Teresa. O grupo auxilia e dá suporte às pessoas transplantadas, com explicações sobre medicações, horários, como conseguir TFD, entre outros.
A CET
A Central Estadual de Transplantes (CET) é a instituição responsável por rastrear possíveis doadores nos estados. Em Roraima, desde 2015, ela administra as principais unidades hospitalares públicas e particulares da capital que possuem Unidades e Centros de Terapia Intensiva, como os Hospitais Geral de Roraima, da Criança, o Lotty Íris e a Unimed.
De acordo com a coordenadora da CET, Patrícia Renovato, nesses locais são feitas buscas ativas de pacientes que são potenciais doadores, ou seja, que tiveram diagnóstico de morte encefálica.
“A partir do momento que identificamos o paciente, posteriormente entrevistamos a família para saber se ela concorda com a doação, pois é um direito dela. Quem toma a decisão é o familiar. Mesmo que o paciente faça uma declaração, é a família quem dá o ok. Então, é importante enfatizar que você deve exteriorizar [para a família] que quer ser um possível doador”, frisou.
Ainda segundo ela, o nome do doador também é colocado em uma fila. Depois disso, se houver um receptor compatível aqui ou em qualquer lugar do país, uma equipe de captadores é enviada pela Força Aérea Brasileira (FAB), que será responsável por levar o órgão ao local onde está o receptor. A cirurgia de retirada é feita no HGR.
A coordenadora disse ainda que, quando um paciente necessita de transplante, ele é atendido por um especialista e entra na fila nacional de transplantes. As principais demandas em Roraima são renais e hepáticas. Atualmente, 155 pessoas aguardam na fila do TFD.
Por fim, Renovato esclareceu em qual situação uma pessoa pode subir uma posição na fila de espera.
“Na verdade, o paciente que está em primeiro é quem desce por causa das condições clínicas dele. Para receber um órgão, você tem que estar clinicamente estável, com as enzimas reguladas, as funções hepática e renais boas, por exemplo. Tudo tem que estar adequado para poder receber aquele enxerto e mantê-lo”, salientou.
Doações roraimenses
Segundo a Secretaria de Saúde (Sesau), o Estado contabiliza desde 2018 até o momento, 17 doações, com consentimento familiar, sendo 12 rins e cinco fígados.
“Com relação aos principais órgãos doados em Roraima, devido à posição geográfica e a logística para a isquemia fria dos órgãos, o Estado só consegue doar e captar rins e fígado”, informou.
Também foram realizadas 57 notificações de doações em 2022 e 38 até o fim de agosto de 2023.
Outras campanhas
Durante o Setembro Verde, outras campanhas e ações também são lembradas pela mesma cor: inclusão das pessoas com deficiência e prevenção ao câncer de intestino.
A primeira é celebrada em 21 de setembro, conforme a Lei 11.133/2005, que instituiu a data como o Dia Nacional da Luta da Pessoa Portadora de Deficiência.
Sem norma regulamentadora, a segunda visa promover a importância da detecção precoce para cura da doença. A iniciativa surgiu da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), para chamar atenção da população sobre a prevenção desse mal.
Fonte: ALERR