Em consonância com o movimento mundial em prol da doação de sangue, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) instituiu a campanha “Junho Vermelho” no âmbito estadual por meio da Lei nº 1.361/2019, de autoria da ex-deputada Yonny Pedroso.
O período compreende o Dia Mundial do Doador de Sangue, que acontece no dia 14, todo ano. Neste mês, quando todos se unem para debater a importância da doação regular, é o momento oportuno para destacar histórias de pessoas que se dedicam a salvar vidas. A revisora Vivian Nina Nunes, de 37 anos, é servidora da Casa Legislativa e compartilhou sua experiência e visão sobre a doação de sangue.
Vivian é doadora há cerca de cinco anos. Embora tenha enfrentado desafios, como a necessidade de manter o peso adequado, encontrou motivação para superar o obstáculo. “Sempre quis ser doadora, mas nem sempre pude”, confessou.
“Por vezes, meu peso estava abaixo do necessário, e eu precisava esperar pelo momento certo. Quando atingia os 51, 52 quilos, que é o peso mínimo exigido, não perdia a oportunidade de ajudar”, acrescentou.
Para ela, a doação vai além da satisfação pessoal. “Doar sangue é uma forma de ajudar aqueles que mais precisam. Não podemos ignorar a realidade de pessoas que dependem dessas transfusões para sobreviver. É um ato de solidariedade e compaixão”, concluiu.
Benefícios
Desde a década de 1990, a Assembleia Legislativa tem adotado medidas para incentivar a doação regular de sangue. As ações têm como objetivo assegurar o abastecimento do Hemoraima, único hemocentro do Estado, e promover o engajamento ao valorizar e recompensar os doadores, conforme explicou o presidente da Casa Legislativa, Soldado Sampaio (Republicanos).
“Temos aprovado várias matérias estimulando a doação de sangue. Faço um convite a quem tem boa saúde e pode doar, que vá ao Hemoraima, pois aquele que doa também pode ter vários benefícios aprovados neste Poder, como a isenção de taxa de concursos públicos, entre outros”, convocou o presidente.
Do ex-deputado estadual Célio Rodrigues Wanderley, o Parlamento aprovou a Lei nº 169/1997, que determina aos doadores cadastrados em programas da Setrabes (Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social) a concessão mensal de uma cesta básica, vinte vales-transportes e uma passagem em transporte intermunicipal, de ida e volta, no trecho capital-residência do doador, exames ambulatoriais e hospitalares com prioridade no atendimento.
A Lei nº 167/1997, da ex-deputada Zenilda Maria Portella, garantiu a isenção do pagamento de inscrição em concursos públicos estaduais para os doadores. Para obter o direito, o interessado deve apresentar no ato da inscrição uma declaração fornecida pelo Hemocentro, comprovando ser doador regular há, pelo menos, seis meses.
Já o direito ao pagamento de meia-entrada em todos os locais públicos de cultura, esporte e lazer, como teatros, museus e cinemas, foi estabelecido pela Lei nº 1.325/2019, do deputado Neto Loureiro (PMB) e do ex-deputado Jalser Renier (SD).
Para o assistente legislativo da ALE-RR Marcus Vinicius Duarte, doador regular desde 2016, os incentivos em leis podem ser a porta de entrada para a prática. Entre eles, destaca especialmente o abono de falta no trabalho no dia da doação, uma vez a cada 12 meses, conforme previsto no artigo 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
“É comum o relato de pessoas que saem enfraquecidas após a doação. Caso tenham que fazer algum esforço, podem agravar uma situação que poderia facilmente ser resolvida com esse dia de descanso”, avaliou o servidor.
Em 2021, o Plenário da ALE-RR aprovou mais duas medidas. A Lei nº 1548/2021, do parlamentar Neto Loureiro (MDB), concede o selo gratuito “Sangue Amigo” às instituições de ensino superior que organizam campanhas de doação anual ou semestralmente, em parceria com o Hemoraima. Ao aderir ao ato solidário, o estudante tem falta abonada no dia.
E a Lei nº 1.571/2021, proposta pela deputada Tayla Peres (Republicanos), que determina a fixação de cartazes nos estabelecimentos comerciais que ofereçam serviços de tatuagem, piercing ou maquiagem definitiva, informando o impedimento de doação de sangue por determinado período (de 6 a 12 meses), conforme estabelece a Portaria do Ministério da Saúde nº 158/2016.
Os avisos também devem ficar visíveis ao público nos postos de saúde, hospitais, bancos de sangue, centros de hemoterapia e outros estabelecimentos assemelhados da rede pública ou privada.
Os centros de captação de sangue possuem três tipos de doadores. Os de reposição ajudam as pessoas que se submetem a cirurgias, ou seja, repõem o sangue do paciente durante procedimentos médicos. Em média, se reservam três bolsas de sangue para uma cirurgia de grande porte. Os doadores de campanha, geralmente, são atraídos por ações alusivas e os voluntários cadastrados nos centros.
Embora haja um cadastro de doadores no Hemoraima há 20 anos, a quantidade de doadores ativos é muito pequena em comparação com o número total de cadastrados, que ultrapassa 20 mil pessoas. De acordo com a enfermeira do setor de captação dos doadores da instituição, Liliana Bezerra, um dos grandes gargalos são os suprimentos dos estoques para cirurgias eletivas.
“Muitas pessoas vão para procedimentos cirúrgicos sabendo que vão precisar de sangue, mas as famílias não se mobilizam. Isso é muito grave, pois, à medida que você vai retirando sangue, isso faz com que em algum momento falte para alguém. Então, não levantamos a bandeira no hemocentro, pois se o sangue não chegar àquela pessoa, ela ficará ali, precisando e com seu quadro de saúde piorando”.
Além do baixo engajamento familiar e do alto número de inativos, a enfermeira aponta que falta apoio logístico para encurtar o caminho da doação. Para sanar a lacuna, ela sugere a criação de leis que beneficiem o transporte dos doadores, reduzindo o custo do combustível ou facilitando o acesso ao local.
“Temos casos de doadores que vêm por conta própria e situações em que o doador não consegue chegar ao hemocentro no dia em que é acionado. Existem várias realidades e incentivos que podem ser oferecidos aos doadores, além de outras ações que os favoreçam”, salientou.
Ela ainda aventa ser necessário propor incentivos não apenas para a pessoa a se tornar doadora, mas para continuar doando ao longo do ano, a exemplo de uma iniciativa da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) que autorizou a liberação do ponto para cada doação realizada, não se limitando a uma vez por ano, como previsto na lei federal.
“No ano passado, tivemos uma iniciativa da Sesau que autorizou a liberação do ponto para cada doação realizada. Isso ajudou muito, pois tínhamos doadores eletivos que não conseguiam abonar o ponto. Agora, já conseguimos, não apenas em uma doação. Isso melhorou e favoreceu bastante. É por meio de leis como essas que o doador se sente valorizado e permanece engajado”, avaliou Bezerra.
O Hemoraima funciona na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, 3418, bairro Aeroporto, Boa Vista. A coleta de sangue ocorre de segunda a sexta-feira, com horário diferenciado. Para os de primeira viagem, o período é das 7h30 às 11h00 e das 13h30 às 17h; os regulares, das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30.
“Como não é um doador frequente, é a primeira vez, a gente não sabe se vai ter intercorrência, por isso colocamos esse limite de tempo, né, do finalzinho do expediente, para que a pessoa possa ficar mais tempo e possamos dar uma atenção melhor para essa pessoa”, esclareceu a enfermeira do setor de captação.
A população também pode tirar dúvidas sobre procedimentos, critérios de doação, impedimentos temporários e permanentes por meio do telefone (95) 98400-9593.
Veja os principais critérios para doação de sangue:
– ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 precisam da presença do pai ou da mãe ou responsável legal);
– doadores de primeira vez devem estar na faixa etária entre 16 e 59 anos;
– deve estar em boa saúde;
– pesar mais de 50 quilos;
– estar alimentado. Evitar alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação de sangue;
– ter dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas;
– grávidas e diabéticos não podem doar sangue;
– não ingerir álcool até 12h antes da doação;
– cirurgias, piercings, tatuagem, endoscopia e colonoscopia inapta o doador por seis meses;
– quadro gripal ou alérgico, aguardar passar a crise e doar após duas semanas sem sintomas;
– a frequência máxima é de quatro doações de sangue anuais para o homem e de três para as mulheres;
O intervalo mínimo entre uma doação de sangue e outra é de dois meses para os homens e de três meses para as mulheres.
Fonte: ALERR