ALEMT: Campanha de prevenção do suicídio destaca que ‘falar’ sobre a temática ‘é a solução’

ab0743366e898b99a7e356f82a09e3b1“Deus me deu uma nova chance para viver”. É assim que a jovem ECBM, de 20 anos, avalia a luta diária travada para lidar com os transtornos psicológicos que, há alguns meses, levaram-na a tentar suicídio. Ela tomou incontáveis comprimidos de ‘tarja preta’ (psicotrópicos) e, após socorro de familiares, se recuperou. De lá para cá, tem se preocupado com a saúde integral. “Estou cuidando de mim mesma”.

A jovem está nas estatísticas numa posição mais favorável: a das pessoas que tentaram suicídio e sobreviveram. No entanto, por ano, outras 805 mil, no mundo, não têm a mesma sorte, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, este número está em cerca de 12 mil casos, sendo mais de nove mil homens e quase três mil mulheres. Por causa da incidência, o suicídio foi, em 1990, declarado pela OMS como problema de saúde pública.

Diferentemente de um dos mitos – o de que debater sobre o suicídio pode encorajar pessoas a cometê-lo – falar sobre ele é a principal forma de prevenir. Ontem, 10 de setembro, foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e o tema da campanha deste ano é “Falar é a solução”. A temática é debatida por todo o mês, conhecido como ‘Setembro Amarelo’, a fim de gerar um ‘alerta social’ para o cuidado daqueles que vêem no ato de desespero uma saída.

ECBM foi diagnosticada com transtorno de personalidade borderline (limítrofe) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG), ambos provocando nela sentimentos muito ampliados, tornando atividades do cotidiano – desenvolvidas facilmente por pessoas sadias – grandes e assustadores desafios. “Os transtornos atrapalham em tudo que vou fazer. Tenho que controlar, o tempo todo, minhas emoções”, explica.

Doenças mentais – A exemplo dos transtornos citados e outros casos mais conhecidos, como o transtorno afetivo bipolar e a depressão, consumo de álcool e outras drogas e mudanças bruscas na vida (como separação de um relacionamento, morte na família e outros processos de perda) são as principais causas de suicídio, segundo o psicólogo da Supervisão de Saúde e Qualidade de Vida (Qualivida) da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Gerson Fabrício. Por esse motivo, segundo o profissional, a tragédia acomete dois principais grupos: os adolescentes e jovens adultos (15 a 29 anos) e os idosos.

Para prevenir o ato, é preciso atenção, é necessário saber ouvir. Isso porque quem comete suicídio já manifestou, em algum momento da vida, total desesperança, desespero, profunda depressão e sentimento de desamparo, a chamada ‘regra dos 4D’. É comum ouvir falas como “eu não aguento mais”, “não farei falta”, “assim eu deixarei de atrapalhar a vida dos outros”.

O psicólogo convida amigos e familiares a colocar um olhar amoroso e atencioso sobre essas pessoas em momento tão frágil. E, assim, salvar vidas, mostrando a elas que, sim, são importantes, são amadas, farão falta e que a vida pode, sim, ter uma boa perspectiva e um bom futuro.

A entrevistada, sobrevivente, percebeu que é muito amada, não quer mais ver o sofrimento da família, sabe que faria muita falta e traçou um completo plano – muitas vezes, questionado pelos que a cercam – para tratar de si. “Eu preciso melhorar, não quero mais passar por isso na vida”. Sentia-se sobrecarregada, trancou a faculdade, fez um tratamento medicamentoso com psiquiatra, tem feito psicoterapia, exercícios físicos, tem buscado a alimentação saudável, está lendo livro de autoajuda. “Estou dando prioridade para a minha saúde psicológica, física, emocional”, conta. Ela tem se sentido muito melhor, não se imagina novamente optando pelo ato desesperado e segue juntando forças. “É uma luta diária, às vezes um pouco menor, às vezes um pouco maior, mas é todo dia”, completa.

É importante, portanto, buscar ajuda profissional e amorosa para lidar com os conflitos emocionais e psicológicos. Os amigos e familiares, além de dar apoio, precisam encaminhar para atendimento profissional. Os aflitos que não se sentem à vontade para falar sobre as dores com os mais próximos podem buscar acolhimento no Centro de Valorização à Vida (CVV). Moradores de Cuiabá e Várzea Grande ligam gratuitamente pelo telefone 141. Os demais podem ligar no (65) 3321-4111 ou acessar o site http://www.cvv.org.br. A organização não governamental (ONG) é formada por voluntários, com foco no apoio emocional. A voluntária Nancia Izabel Nunes destaca que o potencial suicida “dá sinais” e é necessário estar atento para direcionar para um tratamento. A ONG atende, gratuitamente, 24 horas por dia.

Diante de um assunto tão complexo e ainda tratado como tabu na sociedade, os profissionais listam algumas dicas para os amigos e familiares ajudarem os indivíduos em momento de dor e desespero:

– Observe mudança de comportamento, como irritabilidade, afastamento social, alteração alimentar (comer muito ou pouco), demonstração de vazio e apatia.

– Dê atenção a falas desesperançadas, como “eu não aguento mais” ou “quero dormir para sempre”.

– Dê abertura para a pessoa pedir ajuda.

– Entenda que a pessoa está manifestando algum transtorno psicológico e emocional, vê o mundo diferentemente de você e está em profundo sofrimento.

– Exerça a empatia (colocar-se no lugar do outro).

– Converse sobre isso. Escute e, amorosamente, aconselhe.

– Evite respostas que invalidem a dor do outro como “você tem tudo”, “pare de pensar bobagem”, “não seja tão negativo”.

– Incentive atividades que promovam bem-estar, como exercícios físicos, cursos de arte, terapias complementares como yoga e meditação.

– Descubra elementos valorosos para o indivíduo em conflito, para lembrar de como são importantes, como religião e família.

– E (o mais importante): oriente que busque ajuda profissional. É fundamental que se insira em tratamento psiquiátrico e psicológico.

Àqueles que vivem a luta diária também podem seguir algumas dicas:

– Fale sobre o que sente. Não tenha medo.

– Busque atividades que goste e desperte alegria.

– Saiba que muitas pessoas o amam, que você é importante e faria muita falta.

– E (o mais importante): busque ajuda profissional. É fundamental que se insira em tratamento psiquiátrico e psicológico.

Plano Estadual de Combate ao Suicídio em Mato Grosso – A Assembleia Legislativa aprovou recentemente e o projeto de lei que “institui o Plano Estadual de Combate ao Suicídio” aguarda sanção governamental, uma série de medidas para prevenir o ato fatal.

O plano prevê promoção de palestras na semana do dia 10 de setembro; exposições que explicitem eventuais sintomas da enfermidade; criação de canais de atendimento direto aos diagnosticados; atividades para o público alvo do programa; e um sistema de coleta de dados integrado.

O objetivo, segundo o autor do Projeto de Lei nº 556/2015, deputado Dr. Leonardo, destaca que “o suicídio é um problema de saúde pública” e que pode ser prevenido, desde que o Estado “propicie o desenvolvimento de políticas públicas e a capacitação no manejo do comportamento suicida”, envolvendo uma equipe de saúde multiprofissional no atendimento, bem como representantes da sociedade civil organizada. Após aprovada pelo Executivo, a lei ainda precisará ser regulamentada para ser aplicada.

Fonte: ALEMT
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