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Dentro do Outubro Verde, o terceiro sábado do mês de outubro foi instituído como Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita por meio da Lei nº 13.430/17  e tem como objetivo estimular a participação dos profissionais e gestores de saúde nas atividades comemorativas da data, com vistas a enfatizar a importância do diagnóstico e do tratamento adequado desse mal em ambos os sexos como doença sexualmente transmissível e da sífilis na gestante durante o pré-natal. Anualmente, a campanha chama a atenção para as formas de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Apesar de ser uma doença sexualmente transmissível (DST) já bastante antiga e conhecida, atualmente o mundo acompanha com muita preocupação a sua escalada, que segue provocando morbidade e mortalidade. O aumento da incidência pode estar ligada ao comportamento sexual irrestrito com contato desprotegido entre múltiplos parceiros registrado na última década. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a sífilis atinge mais de 12 milhões de pessoas em todo o mundo. Os dados são preocupantes, já que a presença de infecções sexualmente transmissíveis (IST) aumentam em até 18 vezes o risco de uma pessoa ser infectada pelo HIV.

No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o país pulou de 4 mil casos da doença, em 2010, para 167 mil em 2022. Um número 41 vezes maior. No mesmo ano, outros 74 mil casos de gestantes foram detectados e 27 mil ocorrências de sífilis congênita foram diagnosticadas, além de 192 óbitos por esse tipo de sífilis. Até junho de 2022, já haviam sido constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país, totalizando mais de 122 mil novos casos da doença. Esses dados mostram que o país vive uma verdadeira epidemia da doença.

A enfermidade é causada pela bactéria treponema pallidum e sua transmissão ocorre pelo contato sexual desprotegido ou pelo contato com sangue contaminado. Já a forma congênita é transmitida da mãe para o feto durante a gestação quando não tratada ou tratada de forma inadequada. A sífilis é contagiosa, pode ser totalmente assintomática, mas o tratamento é simples e a doença tem cura.  Normalmente o antibiótico mais utilizado para combater a sífilis é a penicilina.

No ano passado, o Ministério da Saúde divulgou um estudo com informações que apontam a situação da doença em todo o país. O leitor que desejar se aprofundar, vai encontrar no Boletim Epidemiológico dados básicos, indicadores e análises epidemiológicas sobre as tendências da sífilis no Brasil, nos 26 estados e no Distrito Federal, bem como na agregação por regiões, a fim de aprimorar a capacidade de formulação, implementação e avaliação de políticas e ações públicas em saúde.

Diagnóstico e a evolução da doença

O médico infectologista Taiguara Fraga Guimarães, em entrevista para a Agência de Notícias da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), fala sobre a enfermidade. Ele reforça a ideia de que a sífilis é “democrática” já que não escolhe cor, gênero, orientação sexual, classe social, enfim, atinge igualmente todos que se expõem à bactéria trazendo diversas complicações.

O especialista faz um alerta sobre o aumento do número de casos de sífilis adquirida, observando que os mais vulneráveis são os homens entre 20 a 39 anos, mas com dados também relevantes na faixa etária dos 13 aos 19 anos. De acordo com ele, a pandemia trouxe uma diminuição do número de casos devido ao isolamento social e à baixa testagem. Porém a adesão ao tratamento e até mesmo a procura por auxílio médico, principalmente entre os homens que são os mais vulneráveis para a triagem, ainda é tabu. “O que vai na contramão de uma sociedade em que as relações sexuais são cada vez mais permissivas”, diz.

Segundo Taiguara, a melhor forma de prevenir a sífilis ou qualquer outra infecção sexualmente transmissível é por meio do uso de preservativos, quebrando o elo de transmissão. Ele lembra que, muitas vezes, as pessoas entendem que o único cuidado que precisam ter no sexo é para evitar a gravidez, mas, na verdade, a prática sexual requer outros cuidados maiores, pois existem várias doenças que são transmissíveis por meio do ato sexual, dentre elas a sífilis. “O anticonceptivo impede apenas a gravidez, mas não impede a contaminação, por isso é tão importante o preservativo.”

Ele também alerta para a prática do sexo oral e anal, que pode se tornar uma forma de contaminação relevante na medida em que as lesões, normalmente nas genitálias, são ricas em treponema pallidum (bactéria que provoca a doença). O especialista adverte que uma mesma pessoa pode adquirir sífilis várias vezes, pois ela não produz imunidade após a exposição.

O médico descreve que quando a doença não é tratada, a bactéria permanece no organismo e a doença evolui para os estágios de sífilis secundária (quando podem ocorrer manchas, pápulas e outras lesões no corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas) ou então sífilis latente (fase assintomática, quando não aparece mais nenhum sinal ou sintoma). Após o período de latência, que dura de dois a 40 anos, a doença evolui para a sífilis terciária, uma condição grave que leva à disfunção de vários órgãos e pode provocar a morte do paciente. Costuma apresentar lesões ulceradas na pele, além de complicações ósseas, cardiovasculares e neurológicas.

O especialista reforça que a prevenção é a melhor maneira de evitar a doença, mas, ao sinal dos primeiros sintomas, é necessário procurar um médico com urgência. O diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para evitar a propagação do mal. A testagem é muito rápida e fica pronta poucos minutos após a coleta. Caso o teste dê positivo, a amostra é encaminhada para comprovação laboratorial. Após a confirmação, o tratamento é iniciado imediatamente.

Epidemia

Médico ginecologista e obstetra formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Túlio Sardinha é enfático ao afirmar que no momento vivemos uma epidemia de sífilis congênita, sendo inúmeros casos claramente percebidos nos consultórios, trazendo enormes desafios para ginecologistas e pediatras, devido ao aumento progressivo na taxa de transmissão. Diante disso, é fundamental chamar a atenção da sociedade para a importância do diagnóstico e do tratamento da sífilis congênita na gestante, pois é a melhor forma de prevenir ou tratar a doença.

Ele ressalta que, quando diagnosticada durante a gestação e realizado o tratamento adequado, é possível evitar as consequências mais severas da transmissão da sífilis para o feto. Entretanto, quando a mulher não toma todos os cuidados, essa infecção pode ser muito grave, com inúmeras alterações irreversíveis para o bebê, tais como alterações no sistema nervoso central, retardo mental, convulsões, alterações nos ossos, na dentição, na audição e na visão. Nos casos mais extremos, pode levar, inclusive, ao aborto espontâneo ou até mesmo à morte do bebê.

O ginecologista explica que o melhor a se fazer, quando a mulher descobre a gravidez, é iniciar o pré-natal o mais cedo possível, porque, logo no início da gestação, o médico ginecologista vai pedir vários exames, dentre eles a testagem para sífilis. O exame é solicitado no primeiro, segundo e terceiro trimestres, tanto para a gestante quanto para o parceiro. Além disso, a mulher é examinada no momento do parto.

Quando a prevenção durante a gestação não é realizada, o diagnóstico e o tratamento da sífilis congênita devem ser feitos logo após o nascimento. Crianças nascidas de mães contaminadas são consideradas de potencial risco de contaminação, mesmo que as genitoras tenham recebido tratamento. Essas crianças devem ter acompanhamento médico constante na infância, pois, quando não tratada, a infecção pode evoluir para estágios de gravidade variada, acometendo diversos órgãos e sistemas, principalmente o nervoso e o cardiovascular.

“É importante que haja conscientização da população para que sejam tomadas todas as medidas preventivas para evitar as doenças sexualmente transmissíveis. Somente através do conhecimento, do acesso à informação, as pessoas podem se proteger para que o País consiga frear os números de casos de sífilis, evitando que a epidemia da doença acometa ainda um número maior de pessoas”, alerta Túlio Sardinha.

Fonte: ALEGO

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