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Hoje é celebrado o Dia de Doação de Leite Humano, data para promover a importância do aleitamento materno, principalmente para crianças que não podem ser amamentadas por suas genitoras
O dia 19 de maio é um dia para promover a importância do aleitamento materno, lembrando especialmente daquelas crianças que, por motivos diversos, não podem ser amamentadas por suas genitoras. Também, para celebrar e incentivar outras mães, que solidariamente, dividem o leite delas com esses pequenos. O Dia de Doação de Leite Humano, celebrado em diversos países nesta data, ajuda a divulgar a relevância desse ato, que pode salvar vidas.  
Tonia Gonzaga Belotti é mãe de três lindas crianças. Em 2014, quando o primeiro filho nasceu, ela foi orientada pelo médico obstetra a procurar o Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Materno-Infantil (HMI), porque estava com dificuldades para amamentar. Além das orientações, que permitiram que ela amamentasse o próprio filho, descobriu que produzia leite suficiente para alimentar também outros bebês e que esse excedente poderia ser doado.

A partir daí, Tonia passou a ser doadora de leite. “Minha ida até o banco de leite foi um marco para eu ter sucesso na amamentação. E eu decidi ser doadora porque desde o nascimento do primeiro filho tive bastante leite, mais que suficiente para o meu bebê, então não podia ficar com essa bênção sozinha”, diz.

No primeiro filho, Tonia doou leite por seis meses. Em 2016 nasceu a segunda filha e ela já não teve problemas para amamentá-la, mas novamente foi ao Banco de Leite, somente na condição de doadora. Foram mais 12 meses contribuindo com esse alimento tão rico para os recém-nascidos. Agora ela está com a terceira filha no colo e adivinha? Há um ano e três meses repassando o excedente de leite materno para o banco.

Salvando vidas

A atitude de Tonia, de doar o leite materno que seu filho não consome, tem ajudado a salvar vidas de muitas crianças, cujas mães vivem situação inversa: por algum motivo, elas não podem, pelo menos, momentaneamente, alimentar suas crias. O leite é doado para bebês prematuros e/ou de baixo peso, internados em unidades neonatais de risco.

A doação de leite materno tem se mostrado tão importante na luta pela redução da morbimortalidade infantil no mundo, que foi formada uma Rede Global de Bancos de Leite Humano. E para orgulho dos brasileiros, nosso país foi pioneiro na pesquisa e na organização dos primeiros bancos de leite.

Tudo começou na década de 1980, com a implantação do Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM). Anos depois, as entidades cariocas Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira, o primeiro do país, celebraram um convênio para a implantação do Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite Humano.

A ideia era estabelecer bases para o desenvolvimento de um subprograma vinculado ao PNIAM, para viabilizar o aprimoramento técnico e o fomento aos bancos de leite no Brasil. Segundo o site da Rede de Bancos de Leite Humano, a partir daí foi possível formular a primeira legislação que regulamentou a implantação e o funcionamento de bancos de leite humano em todo o território nacional, possibilitando assim a normatização dos procedimentos nessa área.

Além disso, também foram desenvolvidos inúmeros programas voltados para a capacitação de recursos humanos, de implementação do programa de qualidade em bancos de leite, de cursos de especialização lato sensu, como o de habilitação em Bancos de Leite e Residência de Enfermagem em Aleitamento Materno, da manutenção de linhas de investigação vinculadas aos programas de mestrado e doutorado em Saúde da Criança e da Mulher, entre outras iniciativas.

Mais de dez anos de estudos e de implantação de bancos de leite por todo o país, desembocaram, em 1998, na criação da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR), com a missão de “promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, coletar e distribuir leite humano com qualidade certificada e contribuir para a diminuição da mortalidade infantil”.

E em 2001, o esforço foi reconhecido mundialmente: a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a BLH-BR como uma das ações que mais contribuíram para a redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990. Um índice que continuou em redução: de 1990 a 2012, a taxa de mortalidade infantil no Brasil reduziu 70,5%.

O sucesso da estratégia adotada no Brasil, despertou interesse de outros países e assim, teve início a transferência das tecnologias desenvolvidas e da filosofia de trabalho, primeiro para a América Latina, que culminou na criação da Rede Latino-americana de Bancos de Leite, em seguida, se espalhando por outros continentes, chegando à constituição da Rede Global de Bancos de Leite Humano.

Tecnologia inédita

Todo investimento feito em estudos durante todos esses anos, resultou numa tecnologia inédita, que alia baixo custo à alta qualidade, além de distribuir o leite humano conforme as necessidades específicas de cada bebê, aumentando a eficácia da iniciativa para a redução da mortalidade neonatal.  Esse é o grande atrativo dos protocolos estabelecidos pelo modelo brasileiro. Na prática, isso significa que o leite doado por mães voluntárias, passa por um processo, desde a ordenha até o armazenamento, que assegura um produto final com total qualidade e com todos os nutrientes conservados.

Tudo isso para conseguir salvar vidas de recém-nascidos prematuros, bebês que nascem com menos de 37 semanas de gestação. A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo. Somente no Brasil, em 2019, foram registrados cerca de 300 mil nascimentos prematuros. Em todo o mundo, a Organização Mundial de Saúde estima que 10% do total de nascimentos sejam de prematuros, uma média de 15 milhões de crianças todos os anos.

Como os bebês nascem e vão direto para a Unidade de Terapia Intensiva, não podem ser amamentados. Se eles não mamam, o leite das suas mães não “desce”. Daí a importância da doação das mães que já estão amamentando seus filhos, doarem o leite excedente.

Cuidados

Segundo a coordenadora do Banco de Leite Humano do HMI, Renata Machado, os procedimentos de cuidados e higiene para doação de leite materno começam com as mamães na hora de ordenhar o leite. Elas são orientadas a prender os cabelos, usar máscaras, lavar as mãos e antebraço com água e sabão e não falar durante a retirada do leite. Também são orientadas a usar os frascos esterilizados e como fazer a higiene de acessórios para a retirada do leite, quando necessário.

Para coletar o material, o Banco conta com o apoio do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás, que disponibiliza veículos e profissionais de apoio. As voluntárias vão até as residências das doadoras e, além de coletar o leite, fazem um trabalho de orientação às mães. A equipe de busca também segue um protocolo de segurança, com o uso de paramentação, distanciamento e uso do álcool em gel.

Após ser coletado, o leite é analisado e pasteurizado para que fique em condições sanitárias para o consumo (o leite “cru” pode ser conservado por até 12 horas na geladeira e por até 15 dias congelado. Já depois de pasteurizado, o produto dura por até 24 horas na geladeira e por até seis meses congelado em freezer).

Renata Machado explica, ainda, que para garantir a qualidade do leite, alguns critérios são exigidos. Quem pode doar: mães que tenham excesso de leite, além da necessidade do próprio filho, que estejam saudáveis e, para comprovar, é exigido que elas apresentem os exames do pré-natal para doenças infecto-contagiosas não reagentes.

Por fim, é proibido que a mãe doadora seja fumante, usuária de drogas, consuma bebidas alcoólicas ou use medicamentos incompatíveis com a amamentação. Em relação ao coronavírus, nem a mãe e ninguém de contato domiciliar pode estar suspeito ou confirmado para a covid-19 ou infecções respiratórias.

As candidatas a doadoras precisam fazer um cadastro prévio no Banco de Leite Humano, que é bem simples. Basta ligar ou mandar mensagem no WhatsApp comercial do BLH, no número: (62) 3956-2921. Todas essas informações  são passadas pela equipe do Banco e, caso ela atenda os requisitos, passa a ser doadora.

Segundo a coordenadora do BLH/HMI, com a pandemia, o trabalho de orientação, que era feito presencialmente no local, teve que ser suspenso, mas algumas medidas foram implementadas para que esse trabalho não fosse totalmente interrompido. “Montamos uma sala de coleta de leite humano e apoio e promoção da amamentação dentro da maternidade, para as mães internadas, além de intensificarmos a orientação de mães e bebês no leito.”

Capacidade ociosa

E para a surpresa de Renata Machado, a pandemia não reduziu o número de doadoras, pelo contrário, houve um aumento nas doações, mas mesmo assim o banco ainda tem uma capacidade ociosa de quase 50%. O BLH tem capacidade para 400 litros e recebe, atualmente, apenas 250 litros. Todo esse estoque é distribuído para cerca de 200 bebês, que, em média, ficam hospitalizados na unidade.

Renata lembra que qualquer quantidade doada é bem-vinda e faz um apelo às mães que estão aptas a doar: “Mães que atendem aos critérios de doação de leite materno entrem em contato com os BLHs, pois a pandemia trouxe mudanças, mas a sua doação traz esperança… de um futuro melhor, nutrindo adequadamente recém-nascidos prematuros que estão nas UTIs neonatais, acelerando o seu processo de recuperação para que os pequenos possam ir pra casa, saudáveis”.

E para as mães que ainda têm dúvidas sobre doar ou não o leite que seu filho não precisa, a doadora Tonia Gonzaga ajuda na decisão, resumindo o sentimento na doação: “Eu já acho incrível saber que produzimos um dos alimentos mais ricos para os nossos bebês, e poder compartilhar com outras crianças, que tanto necessitam das propriedades desse leite para se restabelecerem, é sensacional. É com certeza gratificante. Fico feliz por Deus me permitir vivenciar essa experiência. Eu que inicialmente, mal sabia se amamentaria um, Ele me tornou, indiretamente, mãe de leite de muitos”, sintetiza a doadora.

Neste Dia Mundial de Doação de Leite Materno, quem merece os parabéns são essas mães, que a exemplo da Tonia, salvam milhares de vidas!

Fonte: ALEGO

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