Os desafios são muitos e apresentam diversas facetas do ser mulher: violência, racismo, desigualdade, falta de representatividade, machismo. A maioria está grudada na pele das mulheres ao longo da história e vai ganhando novas interfaces no mundo contemporâneo.
Para avançar nos direitos e políticas públicas para as mulheres, representantes de movimentos e do poder público apontam a mobilização continuada, a presença cada vez maior nos espaços e ações com abordagem que integre as diversas áreas da vida como caminhos.
Para Cacique Pequena, líder da etnia dos Jenipapo-Kanindé, a mulher ainda é muito discriminada e, por isso, o maior desafio é o respeito. “E quando falo respeito, falo para todas as mulheres. Se as mulheres não forem respeitadas, como vamos viver?”, ressalta. Para ela, um dos caminhos para avançar nos espaços sociais é a atividade e presença das mulheres, que devem mostrar o que querem e onde querem chegar, especialmente em causas como a indígena.
Raylka Franklin, assistente social e militante feminista do Fórum Cearense de Mulheres/Articulação de Mulheres Brasileiras, destaca a estrutura patriarcal da sociedade e como esse contexto se expressa por meio das instituições e do próprio Estado, quando nega direitos às mulheres. Apesar de avanços como a conquista de espaços, o acesso à educação e a autonomia, a igualdade de direitos ainda não é realidade, reitera.
Raylka lembra que elas ainda ganham menos, são minorias em espaços como a política partidária e vítimas de assassinatos atrelados à questão de gênero. Diante desse quadro, a identidade do fórum é “feminista, antirracista e anticapitalista” e dialoga com uma diversidade de pautas, comenta.
Ela aponta a necessidade de os movimentos se fortalecerem e expandirem, para que mais mulheres se engajem, participem de coletivos e fiquem organizadas. Raylka pontua a impossibilidade de falar de um único feminismo e os desafios do próprio movimento em pensar as diferenças e desigualdades entre as mulheres e agir a partir disso.
AÇÕES INTEGRADAS
Denise Aguiar, secretária executiva de mulheres do Governo do Estado, afirma que é necessário trabalhar por uma cultura de paz na sociedade, em que a diferença de gêneros não seja vista como uma restrição de direitos e de igualdade. “Há várias formas de ser mulher, existem diversas mulheres com concepções diferentes do ser mulher, e essa pluralidade deve ser pensada no eixo de políticas públicas do estado, para proteger integralmente o direito da mulher cearense”, comenta.
Ao abordar a integralidade das políticas públicas, Denise ressalta a realização pelo Estado de programas que visam à autonomia financeira das mulheres, promovendo eixos de desenvolvimento profissional e do contexto familiar, com ações voltadas à infância e adolescência. Ela também destaca a importância do foco no combate à violência, especialmente com os diversos casos de feminicídio em distintas regiões cearenses.
Gabriela Freitas, diretora de comunicação da União Brasileira de Mulheres (UBM), alerta que o horizonte de desafios é vasto, pois todos os direitos estão constantemente sendo colocados à prova. “Não é porque a gente conquistou que, necessariamente, será mantido”, reitera. Nesse cenário, ela aponta o desafio de se manter viva. “Agente está em um país que assassina as mulheres”, observa, apontando para o perfil machista dos feminicídios.
Outro desafio destacado pela diretora de comunicação da UBM é a proposta de reforma da Previdência. “A gente entende que essa reforma não quer nos deixar usufruir da aposentadoria. Quer nos deixar morrer trabalhando, e isso não é justo e não é o desejo para nenhuma mulher, seja a do campo, uma empresária, uma operária”, acrescenta.
As conquistas femininas ao longo da história e, principalmente, a importância da mobilização continuada são pautas dos movimentos que ganham destaque em março, mas que atuam cotidianamente na sociedade. Para os movimentos, as conquistas e também os desafios impostos são impulsos para novos avanços no campo da efetivação de direitos das mulheres.
Fonte: ALECE