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Por Jacqueline Navarro, química de alimentos, mestre em Ciências de Alimentos pela USP, vice-presidente da ONG Food Safety Brazil.

Em uma das pautas da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2019, foi decidido que 29 de setembro passaria a ser o Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos. Uma forma de promover esforços globais e ações coletivas para atingir a meta 12.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A 12.3 tem como objetivo reduzir pela metade, até 2030, o desperdício global per capita nos níveis de varejo e consumo. Traz como meta ainda a redução da perda de alimentos ao longo das cadeias de produção e fornecimento, incluindo o pós-colheita.

Mas, afinal, qual é a diferença entre perda e desperdício de alimentos? Comumente nos deparamos com os termos “desperdício de alimentos” e “perda de alimentos”. Muitas vezes consideramos seus significados como idênticos. Não são. Embora ambos sejam prejudiciais tanto para as empresas quanto para o meio ambiente, eles não possuem a mesma definição e isto deriva do local onde ocorrem e da razão pela qual acontecem.

A perda de alimentos é definida pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) como a diminuição na quantidade ou qualidade dos alimentos resultante de decisões e ações dos produtores e processadores, seja na plantação, colheita, processamento ou transporte. Os principais motivos atrelados à perda são o excesso de produção, falta de capacidade de armazenamento, além de avarias e danos causados durante a manipulação e o deslocamento.

Já o desperdício de alimentos para a FAO refere-se à diminuição da quantidade ou qualidade dos alimentos resultante de decisões e ações de varejistas, restaurantes e consumidores. Isso acontece, principalmente, devido a práticas de comercialização, padrões visuais imperfeitos, não necessariamente ligados à qualidade do alimento, descuido no armazenamento e preparo dos produtos, além da falta de conscientização dos consumidores.

Segundo o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) intitulado “Índice de Desperdício de Alimentos”, globalmente, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos não é consumido, sendo 14% perdidos entre a colheita e o transporte e próximo de 17% do que é disponibilizado aos consumidores têm como destino o lixo de varejistas, restaurantes e residências.

Em termos quantitativos, em 2020, o mundo desperdiçou 931 milhões de toneladas de alimentos no mundo, o equivalente a encher 321 mil Maracanãs, com aproximadamente 3 mil toneladas cada.

Para lidar com um tema tão complexo, atualmente está surgindo uma ampla gama de soluções que ajudam a diminuir a perda e o desperdício de alimentos. Para a cadeia produtiva, as propostas buscam melhorar a infraestrutura de produção e armazenamento, manuais de boas práticas de colheita e pós-colheita. Já no âmbito do desperdício, muitas políticas públicas tentam trazer o tema para discussão e estudos são realizados para contornar o problema. A iniciativa privada, entretanto, é a maior responsável por gerar novas soluções baseadas em tecnologia.

Uma startup brasileira de gestão da cadeia do frio, por exemplo, se propõe a ajudar a reduzir o desperdício de alimentos no varejo através do monitoramento em tempo real de geladeiras e freezers do ponto de venda. Por meio de inteligência artificial e internet das coisas, garante que os alimentos refrigerados e congelados sejam armazenados de forma adequada, contribuindo para reduzir perdas para os varejistas e proteger a saúde dos consumidores.

Uma esperança de que, juntos, podemos encontrar soluções que ponham fim a essa situação absurda.

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