Na manhã desta segunda-feira (1º), membros da Unale e da União de Parlamentares Sul-Americanos e do Mercosul (UPM), bem como especialistas, debateram o tráfico de pessoas, em encontro virtual. A reunião surgiu como proposta do deputado Kennedy Nunes (PSD-SC), durante o terceiro encontro do grupo de trabalho, que vem discutindo a violência doméstica durante a pandemia, nas Américas.
O debate contou com a participação da presidente da Unale, deputada Ivana Bastos (PSD-BA), da presidente da Secretaria das Mulheres da Unale, deputada Janete de Sá (PMN-ES), assimilar como das deputadas estaduais Celise Laviola (MDB-MG), Augusta Brito (PCdoB-CE), Daniella Tema (DEM-MA), Cristina Almeida (PSB-AP), Erika Amorim (PSD-CE), Mical Damasceno (PTB-MA), Aldilene Souza (PPL-AP), Silvana Covatti (PP-RS) e Zilá Breitenbach (PSDB-RS).
CASO ALIKA KINAN
O ponto principal da explanação foi o relato de Alika Kinan, referência do movimento feminista contra a prostituição e a exploração na Argentina, que contou sua história e como ingressou na luta por esta causa.
A palestrante foi explorada sexualmente por 16 anos e somente após seu resgate, em 2012, entendeu o que era o tráfico de pessoas. Primeiro foi explorada por 10 anos na Patagônia, logo após, acreditando que estava deixando a prostituição para trás, viajou para a Espanha enganada por seu ex-marido, que acabou sendo seu cafetão e agressor, tanto dela como das três filhas que tiveram.
Abusada e violentada, Alika se convenceu de que, para proteger suas filhas e sobreviver, tinha que voltar ao sul da Argentina. Lá atendia mais de 30 homens por noite, perdia tudo o que ganhava com descontos constantes, vivia quase que em cativeiro, era obrigada a usar drogas e a se expor à violência. Após ser resgatada e entender tudo o que havia sofrido, Alika voltou ao sul para buscar justiça.
Em uma decisão histórica, ela conseguiu levar seus captores a julgamento, vencê-los e provar a conivência do Estado com o crime.
“Tive dificuldade para entender que era uma vítima e me distanciar dos meus exploradores. Eu fui explorada desde os meus 18 anos, em uma relação que eu não me via como vítima, mas era tratada como uma coisa, escrava que só fazia o que mandavam”, relatou.
Alika foi prostituída em um dos bordéis mais conhecidos de Ushuaia, onde havia mulheres de várias nacionalidades, inclusive muitas brasileiras, cubanas, porto riquenhas, argentinas e de vários outros países latinos, como relatou em sua fala.
Após dividir sua experiência, Alika respondeu às perguntas dos parlamentares e especialistas, principalmente, sobre programas do governo, suporte às vítimas e política de combate à prostituição, violência contra a mulher e tráfico de pessoas.
“Na Argentina há um plano do governo de suporte ás vítimas, no qual são repassados valores a organizações de combate ao abuso sexual. Mas não há uma triagem para saber o que é prostituição e tráfico”, criticou.
Outro ponto levantado pela palestrante é que ainda há muitos erros no tratamento da vítima, que leva tempo na recuperação do tráfico e precisa de apoio do governo, sem limitações de tempo ou dinheiro.
O grupo está trabalhando uma unificação de propostas sobre o tema, que será apresentado ao grande grupo em algumas semanas.