Brasília – A desaceleração na economia e o ajuste promovido nas contas públicas devem atingir o mercado de trabalho e levar ao fechamento de vagas já no começo deste ano. Analistas estimam que o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro, que deve ser divulgado nos próximos dias, pode até ser negativo. Para o fechamento de 2015, a expectativa é que a taxa média de desemprego, que atingiu o menor patamar da história em 2014, suba dos atuais 4,8% para até 6,3%.
O ex-diretor do Departamento de Emprego do MTE Rodolfo Torelly projeta que o resultado do Caged em janeiro virá com saldo (contratações menos demissões) próximo a zero e não descarta um resultado negativo. A previsão da Tendência Consultoria é de fechamento de 3 mil vagas em janeiro.
O resultado do mês deverá ser o pior para o período desde 2009, quando a crise financeira internacional atingiu o mercado de trabalho brasileiro e levou à eliminação de 101,7 mil postos. Em janeiro de 2013 e de 2014, foram geradas apenas 28,9 mil e 29,5 mil vagas, respectivamente. O agravante deste ano é que os setores da indústria e da construção, que tradicionalmente puxam os empregos nesse período, estão em situação ruim. No comércio, deve haver perda de empregos. Nos últimos dois anos, no mês de janeiro, esse setor fechou com uma média de 72 mil postos de trabalho.
— O mês de janeiro apresentou indicadores econômicos muito ruins, como aumento dos juros, elevação de impostos e dos preços dos combustíveis, inflação alta, além das crises energética e hídrica. Não vemos neste primeiro trimestre condições para criação de novos postos de trabalho — disse Torelly.
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse que o cenário negativo de janeiro pode ter influenciado nas contratações. Ele admitiu que há desaceleração na geração de empregos.
— O quadro atual é muito complicado. A mídia tem exagerado nas notícias ruins. Isso gera um clima de incerteza e insegurança — disse ao GLOBO.
O economista Rafael Baciotti, da Tendências Consultoria, prevê corte de 127 mil vagas nas seis regiões metropolitanas analisadas pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE em 2015. Com isso, a população ocupada cairia para 22,960 milhões de pessoas.
O mercado de trabalho será afetado pela desaceleração na criação de vagas. Além disso, com a piora na renda das famílias, mais pessoas vão procurar emprego, elevando a População Economicamente Ativa (PEA) e provocando alta na taxa de desemprego. A taxa calculada pelo IBGE considera como desocupada a pessoa que não tem trabalho, mas procura um emprego.
— A gente espera que a PEA aumente 1% em 2015, pois há um contingente de pessoas fora do mercado que, em um contexto de menor expansão da renda, deve buscar uma colocação — disse Baciotti.
POBRES SÃO OS MAIS AFETADOS
Ele observou que a alta no desemprego, ao lado da inflação elevada, deve corroer o poder de compra da população este ano, sobretudo da baixa renda.
O pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV projeta uma taxa média anual de desemprego de 5,6%:
— Em 2015, devemos observar enfraquecimento acentuado do emprego, com alta do desemprego e a inflação corroendo o poder de compra dos salários gradativamente. Quem é mais afetado num cenário de elevada inflação são os mais pobres e menos escolarizados, que apresentam baixo poder de barganha nas negociações salariais.
Publicado no O Globo, 19/02/2015