Nas últimas eleições presidenciais, ocorreu crescente polarização entre duas forças políticas que disputaram, com fortes emoções, a hegemonia no plano nacional. Na presente campanha, muito antes do seu início, já se antevia algo diferente, considerando o desgaste das principais siglas partidárias protagonistas dos embates eleitorais e da atividade política no passado recente de nossa história.
Tornou-se voz corrente, de norte ao sul, de que não havia nome para se votar e que seria o caso de anular o voto ou consigná-lo branco, como forma de expressar a enorme e generalizada indignação com o atual estado de coisas da Nação. Assim se construía o cenário mais provável para o pleito de outubro, com grande desinteresse e desesperança. Durante a formação das candidaturas, aumentavam as incertezas e, por conseguinte, as previsões de enorme proporção de sufrágios brancos e nulos e de abstenções.
Mas, no decorrer do processo e às vésperas do primeiro turno, verificou-se um substancial interesse do eleitorado, não obstante a espécie das escolhas, por amplas margens, ser diferenciada daquela normalmente expressa em pleitos anteriores. Com efeito, em 2018, parece bastante cristalizada a preferência por mudanças profundas mediante a negação ao status quo, na rejeição a um e outro, inclusive, com a influência de determinadas estratégias dos concorrentes nos momentos derradeiros do primeiro turno. Apesar de exageros pontuais, prevaleceu a democracia graças à postura da maioria dos candidatos ao Legislativo e aos governos estaduais, que se dedicaram a seguir normas da convivência democrática na disputa pelo poder, objetivo precípuo da vida partidária.
Evidentemente que se vislumbra um segundo turno permeado por acirramento e tensão ainda maiores, sobremodo, em razão da identidade ideológica diametralmente oposta dos dois finalistas. A busca pelo voto útil, ao reforçar a posição contra o outro lado, deverá ser tônica marcante para a definição do novo Presidente da República e poderá superar a definição pelo voto ao mais capaz, ao de melhor programa, o que caracterizaria escolha mais consciente.
Outro aspecto importante a se considerar é a nova formação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nesta Casa, com a eleição de 2/3 de suas vagas. Confirmando as expectativas, houve forte renovação de cadeiras no Legislativo, com a chegada de nomes novos, de modo especial na Câmara Alta, além de ampliada a pulverização de partidos políticos presentes na composição das respectivas Casas. Sem dúvida, uma situação que deverá exigir muita habilidade e negociação do próximo Presidente, para garantir governabilidade nos quatro anos seguintes.
O entendimento com as demais forças políticas será uma premissa indispensável aos dois concorrentes do segundo turno, não apenas para assegurar a vitória definitiva em 28 de outubro, mas também para iniciar a arregimentação de apoios no Parlamento às medidas a serem implementadas a partir de janeiro de 2019.