Para o professor Eduardo “Torto” Meneghelli, tetraplégico de nascimento, é fundamental que a pessoa com deficiência tenha atitude. “De que adiantaria se todos nós ficássemos nos lamentando por não termos um intelecto normal, por não enxergarmos, ouvirmos ou andarmos? Somos a prova viva de que reclamar não resolve nada, o que resolve é atitude”, defendeu o professor durante palestra motivacional alusiva ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, realizada na tarde desta quinta-feira (8), no plenarinho Paulo Stuart Wright da Assembleia Legislativa.
Eduardo Torto incentivou os deficientes a buscarem qualificação. “Já estamos vivendo a inclusão, mas existe muita teoria e pouca prática. As pessoas se esquecem de se habilitar, esquecem de se profissionalizar, não podemos viver eternamente de favores, temos de nos respeitar”, declarou Torto, acrescentando que primeiro teve de aprender a escrever com a boca para depois ser aceito na escola.
“Minha mãe me ensinou a caminhar sem por os pés no chão, a nunca me sentir uma vítima, a nunca esperar, porque entre o querer e o fazer existe uma certa distância e essa distância somos nós. Eu posso! Só vou dizer que não posso depois que tentei, por isso vou morrer dizendo: viver é bom demais”, garantiu o cadeirante.
Mestre em educação, Torto criticou os colegas professores. “Vejo como os professores têm medo de aceitar o desafio da diversidade dentro da escola, vejo como são ligados aos laudos e como não insistem para ver se a pessoa tem um mínimo de cognição. Já ouvi muito ‘até os pais querem um descanso dos filhos’, também ouvi companheiras perguntarem o que eu gostaria de fazer em sala de aula. Hoje sou pedagogo, capacito professores para trabalhar com a diversidade”, contou Eduardo Torto.
Terapia do espelho
Torto contou que sua mãe, dona Eugênia, colocava-o diante do espelho e repetia-lhe constantemente: “Esse cara diante do espelho é você. Você é assim e isso eu nunca vou poder mudar, mas do pescoço para cima você é um gatinho e é capaz de muita coisa”, relatou o tetraplégico, que emocionou a plateia ao contar como a mãe agia para não privilegiar um filho em relação ao outro. “Ela me dizia ‘vai, rola, rola e passa a a perna no teu irmão e pega o que você quiser’. Mais tarde ela me contou que dizia isso e depois ia para o quarto chorar”, descreveu o professor da rede municipal de Balneário Camboriú.
Tolerância não, reconhecimento sim
Segundo a diretora de Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação (SST), Maria Elisa de Caro, atualmente os deficientes buscam reconhecimento. “Não queremos mais tolerância, ‘ah, eu aturo que você fique comigo!’ Não, nós queremos reconhecimento de que temos o mesmo valor, por isso lutamos por direito à igualdade quando ela nos dá dignidade, e lutamos pela diferença quando é a diferença que nos dá dignidade”, explicou a diretora da SST.
Estado mais inclusivo
De acordo com Pedro de Souza, servidor da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que Santa Catarina é o estado mais inclusivo do país. “Isso não é de graça, tudo foi fruto de muita luta, ainda somos poucos, mas hoje o dia é para chamar mais pessoas, porque para que inclusão se dê por inteiro, precisamos tirar ela da letra da lei e colocá-la na prática”, avaliou o servidor da FCEE.
Fonte: ALESC