De acordo com o presidente do Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (Geeon) e coordenador do Comitê Estadual de Controle do Câncer de Mama, doutor Luiz Porto, cerca de metade das mulheres não comparecem na data agendada para o exame, oferecido gratuitamente pelo grupo.
Para ele, é preciso desmistificar a doença. “Já houve pacientes que não vieram porque os maridos não deixaram, pela possibilidade de serem examinadas por homem. Há muita coisa para nós caminharmos ainda”, acrescenta.
ESTIMATIVAS
De acordo com o Inca, foram estimados 57.960 casos novos no Brasil em 2016, o que significa uma taxa de incidência da doença de 56,2 casos por 100 mil mulheres. O índice de mortalidade no País também aumenta a cada ano. No Ceará, por exemplo, 491 mulheres morreram de câncer de mama em 2012, segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), desenvolvido pelo Ministério da Saúde. Em 2013, esse número subiu para 531 e, em 2014, para 536.
“Aqui a incidência aumenta e, infelizmente, a mortalidade não diminui. Nos países desenvolvidos, a incidência também aumenta, mas lá a mortalidade diminui, porque o diagnóstico é feito cedo”, explica Luiz Porto.
Embora a incidência do câncer de mama seja mais comum em mulheres acima dos 50 anos, cerca de 27% dos casos no Ceará são identificados em mulheres abaixo dessa faixa etária, de acordo com levantamento do SIM relativo a 2014. “Uma das possíveis causas seriam as mutações genéticas”, afirma o médico.
O oncologista informa ainda que o Geeon atualmente desenvolve uma pesquisa científica inédita, que busca encontrar uma possível relação entre o vírus do HPV e o câncer de mama, o que também poderia explicar a alta incidência da doença em mulheres mais jovens.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Graças aos avanços da medicina moderna, o câncer de mama está entre os quatro tipos com maiores chances de cura. Câncer do colo do útero, de intestino e de próstata são os outros três tipos preveníveis e altamente curáveis.
Porém, para que isso aconteça, é preciso que o diagnóstico seja feito o mais precocemente possível, alerta o oncologista clínico do Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), doutor Eduardo Cronemberger. “O paciente tem que ter acesso rápido à atenção, porque essa doença não espera. Ela vai avançando, avançando e, quando chega numa situação mais avançada, não tem mais cura”, enfatiza.
A Rede Estadual de Atenção Oncológica atua em três frentes: atenção primária (atendimento nas unidades básicas de saúde, com o trabalho de prevenção), atenção secundária (diagnóstico por mamografia, biópsia, etc.) e atenção terciária (tratamento especializado com quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia).
Segundo Cronemberger, a Coordenadoria de Atenção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) está tentando criar um fluxo mais rápido entre o diagnóstico e o tratamento, a fim de evitar o agravamento da doença durante esse tempo de espera. Para ele, o prazo máximo de 60 dias estabelecido pelo Ministério da Saúde para a realização do tratamento do paciente com câncer no SUS, após assinado o diagnóstico em laudo patológico, é longo demais.
“O pior é o paciente começar a ter os sintomas antes disso e demorar mais ainda para conseguir chegar ao tratamento. A demora de meses, às vezes, leva a um estado mais avançado, a doença se agrava, o paciente não consegue encontrar porta de entrada no sistema. Ele acaba entrando pelas emergências, com a doença avançada e um prognóstico muito ruim. Acaba morrendo da doença”, lamenta.
O Ceará conta atualmente com oito instituições em sua Rede Estadual de Atenção Oncológica, sendo seis na Capital, uma em Sobral e outra em Barbalha. Nesses locais, a cidadã ou cidadão pode se informar a respeito do câncer, realizar exames para o diagnóstico definitivo da doença e receber tratamento gratuito.
As unidades em Fortaleza são: Hospital Infantil Albert Sabin; Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC; Instituto de Câncer do Ceará; Hospital da Irmandade Beneficente Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza; Hospital Cura d’Ars e Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio). Em Sobral, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Sobral; em Barbalha, o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo.
NO PARLAMENTO
Em sintonia com a necessidade de estimular ações de prevenção ao câncer de mama, o Plenário da Assembleia Legislativa aprovou, em junho de 2016, o projeto de indicação nº 192/15 , do deputado Carlos Felipe (PCdoB).
A matéria sugere a instituição da Campanha de Prevenção e Detecção Precoce de Câncer de Mama nos órgãos públicos do Estado, com o objetivo de estimular os servidores a realizarem exames preventivos. “O câncer de mama é o segundo tipo mais incidente nas mulheres, constituindo-se em um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e no mundo”, observa o parlamentar.
SÉRIE
A Agência de Notícias da Assembleia Legislativa publica, ao longo do mês, uma série de reportagens sobre o câncer de mama e ações da campanha Outubro Rosa. Na primeira matéria, foram apresentados eventos e mobilizações que vão ocorrer na Assembleia Legislativa e em Fortaleza, conscientizando sobre a importância de ações preventivas no combate à doença.