O alto índice de suicídios no Brasil, especialmente na Bahia, e a busca de caminhos para a solução do problema foram os temas mais debatidos na audiência pública intitulada “Valorização da Vida e Prevenção do Suicídio”, realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa, nesta segunda-feira (6).
Proposta e dirigida pelo vice-presidente do colegiado, Capitão Alden (PSL), a mesa da audiência contou com a presença da presidente da comissão, Neusa Cadore (PT); do vereador de Salvador, Cezar Leite; da coordenadora e idealizadora do Núcleo de Estudos e Prevenção do Suicídio (NEPS) da Sesab, Soraya Carvalho; da coordenadora do Centro de Valorização da Vida (CVV), Josiana Rocha; do promotor de Justiça, Carlos Crosué, e do major Ramon Baylão, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar.
Psicóloga e psicanalista, Soraya Carvalho falou do suicídio como um fenômeno multideterminado, um produto do somatório de questões psíquicas, transtornos mentais, contexto social e possivelmente genético. “Os índices estão se tornando alarmantes, não só pelo aumento das notificações, mas também por conta do imperativo de sucesso, de satisfação, de felicidade colocado para os jovens. Você não pode errar, você não pode fracassar, chorar, ser infeliz, você tem que ser, sempre, bem-sucedido. Então, isso torna a vida do ser humano, principalmente dos jovens, impossível”.
VOLUNTÁRIO
O trabalho social do Centro de Valorização da Vida (CVV) foi colocado pela coordenadora, Josiana Rocha. Associação fundada em 1962, reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973, o CVV presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio a pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Desde 2018 passou a ser uma única rede, com o número 118, atendendo, diariamente, a 8 mil chamadas em 106 locais no Brasil.
“A gente faz parte de uma instituição num mundo tão conturbado, que cobre esse país de amor fraterno, de respeito ao ser humano, de estar com ele na hora que ele precisa. As pessoas precisam dos profissionais, psicólogos, psiquiatras, de todos eles, mas na madrugada ela entre em crise e não tem contato com o psiquiatra”.
Os depoimentos impactaram o proponente da audiência, Capitão Alden. “Muito fortes essas histórias que nos movimentam e nos dão força para não parar e promover outros momentos como este. É imprescindível fomentar a adesão de mais voluntários, promover espaços de lazer e integração da juventude nas escolas e nas cidades”, acrescentou.
O legislador questionou o porquê de Salvador, a capital do axé, da música, do carnaval, tem altos índices de suicídio. “ Será que essas festas não têm sido simplesmente uma forma de escape dos problemas? Estamos perdendo a guerra para as drogas, tanto lícitas quanto ilícitas. Falta mais contato familiar”.
Na audiência, o promotor de Justiça do Estado Carlos Crosué defendeu o aumento da rede de apoio de atenção psicossocial Na Bahia. Em seu relato, ele afirmou que a complicação é maior quando se trata de crianças e adolescentes. “Em apenas quatro meses, em um CAPS de Salvador, foram atendidos 114 adolescentes com ideação suicida, tanto por questão de uso de substâncias químicas quanto por questões internas de sofrimento, situações difíceis e pessoas que se aproveitam da vulnerabilidade para fomentar o suicídio nas redes sociais”.
Ele também defendeu a criação de políticas integradas e direcionadas para a prevenção do suicídio como melhor forma de tratar, pela raiz, o problema da depressão, da raiva, das questões emocionais, que devem ser tratadas desde a infância. “Acho que essas audiências vêm, realmente, mexer com a nossa ideia de que o problema é muito mais grave do que a gente imagina. Acredito que a participação cada vez mais forte e mais próxima das instituições que lidam com o problema da prevenção do suicídio deve ser mais fortalecida a partir de agora”.
Propondo a criação do primeiro centro de referência de prevenção ao suicídio do Brasil, tornando a Bahia o estado pioneiro numa iniciativa que já é uma tendência mundial, a coordenadora do NEPS conclamou os parlamentares para a construção das políticas a serviço do povo. “É importante que todos se juntem nessa incansável luta a favor da prevenção do suicídio na Bahia”, conclamou.
