André Pereira César, Cientista Político, para a Hold Assessoria

A definição da nova Mesa Diretora da Câmara dos Deputados se dará apenas no início de fevereiro de 2021. No entanto, o processo sucessório já está em curso. Muito dessa antecipação se deve a dois fatores – a crise gerada pelo novo Coronavírus e a convocação, pelo Planalto, do Centrão para ajudar na distribuição das cartas no jogo político. Afinal, qual seria o perfil do sucessor de Rodrigo Maia (DEM/RJ)? Antes, façamos um breve histórico dos últimos presidentes da Casa a partir do primeiro governo Lula.

João Paulo Cunha (PT/SP): foi eleito com 434 votos, assumindo o comando da Câmara logo após a posse de Lula. De origem sindical, mostrou-se bom articulador, em especial nas discussões das reformas da Previdência e tributária.

Severino Cavalcanti (PP/PE): assumiu em 2005, após uma cisão no petismo – o partido, sem acordo interno lançou dois candidatos, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP) e Virgílio Guimarães (PT/MG). Quase um “presidente acidental”, Cavalcanti, integrante do baixo clero, envolveu-se em polêmicas. Renunciou ao cargo sete meses após a sua posse por conta de denúncias de corrupção.

Aldo Rebelo (PCdoB/SP): entrou em um mandato tampão no lugar de Cavalcanti. Apesar de seu perfil de esquerda, sempre dialogou com todos os setores do establishment. Em sua gestão, impediu um banho de sangue quando da invasão da Câmara por integrantes do movimento dos sem-terra, em maio de 2006.

Arlindo Chinaglia (PT/SP): o segundo petista a assumir a presidência da Casa, Chinaglia realizou uma administração dura, com cortes nos gastos. Pouco popular entre seus pares e servidores da Casa, sobreviveu ao desgaste de seu partido e segue com mandato de deputado federal.

Michel Temer (PMDB/SP): fruto de um acordo de partilha do poder com o PT, a gestão Temer foi marcada por grande estabilidade nas relações entre os partidos e a Casa com o Planalto.

Marco Maia (PT/RS): talvez o mais discreto dos presidentes da Câmara, fez uma gestão de pouco brilho.

Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN): mais uma vez resultado da divisão de poder com os petistas, a administração de Alves foi similar à de Temer.

Eduardo Cunha (PMDB/RJ): ao assumir o comando da Câmara no início do segundo mandato de Dilma (2015), Cunha selou o destino da petista. Polêmico, foi dele a ideia de criação de um grupo parlamentar suprapartidário, para sustentação de interesses e com poder de negociação suficientes para ditar as regras políticas e econômicas do país, como as chamadas pautas bomba, que acabaram por minar a governabilidade do governo Dilma, culminando no processo de impeachment. Teve êxito, mas acabou afastado e preso por corrupção.

A “era Maia” começou no segundo semestre de 2016, logo após o afastamento de Cunha. Com o apoio de partidos do centro e da esquerda, ele derrotou o favorito Rogerio Rosso (PSD/DF) e, desde então, vem realizando uma gestão equilibrada. Sob sua batuta foram aprovadas, entre outras, a PEC do teto dos gastos e as reformas da Previdência e trabalhista.

Agora o jogo recomeçou. A especulação é grande em torno dos potenciais candidatos. Entre os cotados, por ora, estão o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), o líder do PP, Arthur Lira (PP/AL), o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (Republicanos/SP), o deputado Marcelo Ramos (PL/AM) e o deputado Alessandro Molon (PSB/RJ). Em comum, todos são bons articuladores e dialogam bem com seus pares.

Importante esse resgate histórico a fim de se desenhar o perfil de quem os deputados gostariam de ter como líder, com força bastante para enfrentar o difícil e incerto 2021.

Por fim, não se pode descartar a possibilidade de que Maia, insuflado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP), venha a ser reconduzido mais uma vez à presidência da Câmara. Para isso, será necessária a aprovação de uma emenda constitucional, além de alterações no Regimento Interno. Essa solução pode ser do interesse de muitos grupos políticos – e o Centrão com seus cerca de duzentos deputados terá peso nessa definição.

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